Rendida a ... Francisco Palma Dias (o POETA)

Gema, modo de usar e de fazer, trama

1
Donde vai parindo esta história vera
descobre-se e faz-se
refaz-se
esta passagem da ilha dos amores
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à do único fervor
a dos ardentes

2
este canto aqui deitado
a ninguém pode servir
mas pode ser levantado
por quem o deixar subir
pelo corpo e que dum trago
cantar então a luzir.
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Um dia ou outro se olha
porque então do que canto ousamos
chegar ao quinto que é cante
se olhas de caras e dorso
a inesfacelada
face
e é
o nosso rosto
e todas as máscaras que aqui estão

3
artefacção
e arte fátua
ofício
e artificio
trazer as estrelas aos cabelos alargados à dansa
[que é voar silente
e no corpo frígido o grito desunhado em gritaria
com as cores sintéticas no ácido na boca (silenciar
que mesmo se de branco na face do nada
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é sangue espavorido que nela seca ou secará
mais tarde
estampilhado
ou num estoiro de esmagar os dentes)
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é arte egónica
convulsa ou embalando o ricto na noite onde ago-[niza e se resolveo ego (se o fortalece é a morrinha pêca)
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canónica renasce estoutra
duma tradição que se descobre
Tradição é
a que tece as madeixas e os eixos a que se desdobra
o soçobro do mosto (e o vinho faz-se
e desce pelo corpo do artesão
que desaparece).
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Duma e doutra
bate meu coração aqui escrevendo (e que ele me leve
à perdição de tudo o que sonhei
que se extinga o nome e que
nomei

4
repousas sobre a terra
poisada dentro de ti mesma e despertas
desfraldando meu corpo que murmuras
(sopro a sopro te descubro) e proferes
todos os sabores que prefiro
(amargosos, sem açúcar)
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de ti a mim
amar reúne e nutre
de mim a tio mar desata um nó amarrotado.
Assim nos funda
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estamos e somos
esta travessia que em nós pulsa

5
nas frases outonais deste inferno
soletro letras ilustrando a bruma
d´aquém e d´além estar, ou seja, a espuma
que brame em continente submerso.
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Ao veio donde fomos rastejando
volveste velida alma minha erguida
louçana e pura entrançado o sirgo
que cose a ligadura a lume brando.
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É fogo luso para a quinta essência
Atalantando. E nesta lonjura
a soidade pena em mim pulsando
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o futuro presente agora e quando
o ferro fundente descobre a armadura
que veste o fiel de luz, perdidamente
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Francisco Palma Dias, in “cante quinto”, Guimarães editores, 1981.

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