MINHA CARTA

Tom Zé no Auditório Ibirapuera

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Eu preciso mandar notícias

pro coração do meu amor

me cunzinhar

pro coração do meu amor

me refazer

me sonhar, me ninar, me comer,

me cunzinhar

como um peru bem gordo

me cunzinhar

como um garrote arrepiado

um casal de pombas

que saiu da sombra.

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Me cunzinhar

como um bezerro santo

canário preso

pra limpar o canto

luxa no alpiste

mas o trinado é triste.

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Eu escrevo minha carta

num papel decente

quem se sente

não economiza

martiriza

Martiriza o pensamento

eu digo no papel

que o anel

no anel do pensamento

andei duzentas léguas

minha égua minha égua

esquipando o peito me sacode,

cada golpe.

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Nesse golpe do galope

que o envelope engole

cada gole

da lembrança

vale um tesouro

é besouro

que se bate

sempre na vidraça

quando passa

quando passa em pensamento

volta na saudade

toda tarde.

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Eu preciso mandar

mandar notícia.

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Ai, ai, ai, ui (repete)

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Tom Zé