sexta-feira, 16 de setembro de 2011

LIRIAL




 




Lírios, lírios
a vida só tem mistérios.
Destruo os lírios,
eles me põem confusa.
Os finados se cobrem deles,
os canteiros do céu,
onde as virgens passeiam.
Com cabeças de alho,
os bulbos ficam na terra
esperando novembro para que eu padeça.
Como pessoas, esta flor espessa;
branca, d'água, roxo-lírio,
lírio amarelo - um antilírio -,
lírio de nada, espírito de flor,
hausto floral do mundo,
pensamento de Deus inconcluído
nesta tarde de outubro em que pergunto:
para que servem os lírios,
além de me atormentarem?
Um lírio negro é impossível.
Inocente e voraz o lírio não existe
e esta fala é delírio.



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Adélia Prado. In: O Pelicano. Licor de romãs. In: Poesia reunida. 3a ed. São Paulo: Siciliano, 1991. 407 p. p. 311.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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