quinta-feira, 30 de abril de 2009

Acontece







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Num momento ocioso roubado à minha discreta participação nas VII Jornadas ICOM Portugal: Museus e Turismo , realizadas esta semana num dos atapetados auditórios da Gulbenkian em Lisboa, saí levitando (aquele chão fofo, cor de camurça, abafa o barulho dos saltos, dá-nos escala, uma sensação de ...) bem, deixemos isso, saí da sala e lá fui direitinha à livraria. Os 10 minutos de uma breve fuga para comprar um livro antecipadamente identificado, transformaram-se numa longa ausência de mais de meia hora. Perdi duas comunicações e alguns pertinentes comentários, mas encontrei-(me) com esta preciosidade literária que fala de falas, da percepção e linguagem num mundo mais-do-que-humano, da carne da linguagem e da ecologia da magia.
Enfeitiçada pela abordagem transdisciplinar (Filosofia/Ecologia/Religião), pelo tom envolvente da escrita e pela novidade do discorrer de David Abram, o cientista - ilusionista/mágico de rua/prestidigitador, filho de dois grandes artistas, uma pianista e de um pintor, que usa os seus dons ilusórios, criatividade e rigor científico para investigar a fenomenologia da percepção mais-do-que-humana, o grande poder dos xamãs e feiticeiros em recônditas aldeias do Bali, as artes da cura e o-mais-que-sensível equilíbrio entre o tangível e intangível na natureza.
Fiquei ali, encostada à estante, com o livro obrigatório debaixo do braço (aquele que inicialmente me tinha levado à livraria, já identificado e pago) e ESTE outro, de um azul cintilante, que me veio parar ás mãos num passe de mágica.
De volta ao auditório, ainda consegui ouvir a acutilante intervenção do presidente do ICOMOS-Portugal, que fez questão em distinguir, claramente, a coisa da coisificação, quando se fala de Patrimónios, Museus e Turismo.

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

En Lisboa, asomados a las ventanas, los ancianos leen y releen ...



En Lisboa los portales poseen timbres individuales para cada piso, timbres que se amontonan unos encima de otros en la superficie de las puertas formando extraños mosaicos. En Lisboa los policías charlan en la calle sobre la colonia que utilizan, dándose a oler sus muñecas, mientras los tullidos no les quitan ojo. En Lisboa, asomados a las ventanas, los ancianos leen y releen novelas policíacas al caer la tarde. En Lisboa, desde lo alto del elevador de Santa Justa, a eso de la una del mediodía, puede verse a dos dubitativos suicidas charlando de pie sobre un tejado. En Lisboa, los sex-shops, por lo que he podido comprobar, son la mar de pudorosos. En Lisboa hubo una vez una empresa de limpieza de chimeneas, fundada en 1861, llamada A Lisbonense, situada sobra una floristería llamada A Gardenia. En Lisboa los tejados no parecen reales. En Lisboa hay pensiones que invitan a pensar. En Lisboa, a la hora del aperitivo, las parejas se sientan en las terrazas y hablan entre susurros que nadie más puede escuchar. En Lisboa los tranvías son como animales que engullen a las personas y así, en sus vientres, mientras hacen la digestión, las transportan por toda la ciudad. En Lisboa hasta los maniquíes se sientan al sol con la mirada perdida. En Lisboa los andamios son individuales, las calles tan solitarias como los andamios y la saudade puede contemplarse hasta en los zapatos de tacón de las mujeres sin prisa.


Texto e fotografia de Álex Nortub, publicado AQUI Relato "Ocho días en Lisboa "
Fiquei presa a este olhar estrangeiro _ http://hoteljuntoalavia.blogspot.com/

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sábado, 11 de abril de 2009

Passagem

Fotografia http://www.desireedolron.com/work.aspx











Dobro esta folha do caderno para assinalar mais uma Pessach, mais uma passagem. ázima. Regresso no Pentecostes. Até lá, silencio-me para escutar o que o vento aqui deixar.


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terça-feira, 7 de abril de 2009

O que é ser índio ?




Fotografias: Michel Blanco




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Quem nunca ouviu falar no Curupira e no Saci? Nem conhece mandioca, guaraná, tapioca, ou nunca deitou numa rede? Esses são elementos da cultura indígena reconhecidos como parte da identidade nacional. Em 19 de abril comemora-se o Dia do Índio, mas há pouco o que festejar nos mais de 500 anos de contato. No Brasil, vivem mais de 500 mil índios em aldeias. São 220 etnias e 185 línguas diferentes. Mas a sociedade brasileira pouco compreende a realidade deles - por falta de informação ou preconceito.



É o que afirma Betty Mindlin, antropóloga e autora de "Diários da Floresta" (Editora Terceiro Nome), lançado em 2006 e recentemente traduzido para o francês. Ela fala da complexidade da vida social, da organização econômica, da cultura e das relações de afeto dos índios e iniciou sua primeira grande pesquisa com o povo Suruí, de Rondônia, no fim da década de 1970.



Assim como outras etnias brasileiras, os Suruí passaram por transformações intensas nos últimos 30 anos. "Não há nada que seja estático e não podemos querer que os índios não sofram influência de uma sociedade dominante. Eles estão sujeitos a isso, às religiões proselitistas", explica Betty. "Se por um lado observo coisas fantásticas, pois hoje eles falam por eles mesmos, estão organizados, por outro essa questão da religião me entristece. Os pajés estão calados por força de uma lavagem cerebral", conta.



Mesmo com dificuldades, a população indígena brasileira cresce atualmente acima da média nacional, com índices de cinco e seis por cento ao ano. Mas a pressão pela integração à sociedade e a visão preconceituosa marcam o modo como a questão é tratada no País. "Muita gente tem dificuldade de nos entender porque ainda guarda a imagem antiga do índio nu, que não falava português. Hoje, temos contato com a tecnologia da sociedade não-indígena. São relógios, carros, computadores, telefones... Mas nem por isso deixamos de ser índios, pois temos a tradição", avalia Cipassé Xavante, cacique da aldeia Wedera, na terra indígena Pimentel Barbosa, em Mato Grosso.


Cipassé trabalha para mudar essa percepção. "Trabalhamos com crianças e professores em escolas da região e damos palestras para estudantes universitários. A educação deve informar e o povo brasileiro não sabe, não tem informação. Esse é um exemplo de troca".



O que é ser índio?

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A Organização das Nações Unidas (ONU) define como indígenas aqueles povos nativos que não se amalgamaram nos processos civilizatórios. Essa definição, no entanto, é insuficiente, embora sirva de base para discussões em âmbito internacional - caso da Declaração Universal dos Povos Indígenas, aprovada em 2007 por 143 países, incluindo Brasil, e que agora conta com a posição favorável da Austrália, até então opositora do texto, juntamente com Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia.



No Brasil, índio é aquele que preservou um sentido de comunidade e de lealdade a um passado mítico, "que não é necessariamente um passado histórico", afirma Mércio Gomes, antropólogo e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde ficou de 2003 a 2007.


"Nos EUA, é índio quem tem 1/124 de sangue indígena. Na Bolívia, essa questão é um pouco semelhante ao Brasil, e ser identificado como índio depende de especificações e preservações de características comunitárias", explica. Para Mércio, o modo de ser dos povos brasileiros está extremamente conectado com a relação que estabelecem com a terra.



A líder indígena e socióloga Azelene Kaingang, do Paraná, concorda e questiona a visão que não-indígenas têm do território. "A sociedade em geral pensa na terra com a visão do valor monetário: quanto vale a terra para compra e venda? Para os povos indígenas, a terra é a referência de identidade".



Formada pela PUC do Paraná e funcionária da Funai em Brasília, sempre que pode vai à aldeia e pretende, em breve, voltar para ficar de vez. Ao definir o índio no Brasil hoje, dá a seguinte declaração: "Ser índio no Brasil é se sentir pequeno, se sentir diminuído frente aos direitos dos cidadãos brasileiros. Somos sujeitos de juízo e de pensamento. Isso é história, não é passado. Estamos sofrendo um processo de recolonização." Azelene refere-se ao julgamento da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol no Supremo Tribunal Federal (STF), em 19 de março desse ano, que culminou na determinação de 19 condicionantes para novos processos de regularização fundiária. Uma vida plena de sentidos.






Betty Mindlin lembra da história de Pedro Agamenon Arara, em Rondônia, que passou mais de 30 anos sem saber que era índio. Ameaçada, a mãe de Pedro fugiu da aldeia quando ele ainda era pequeno e nunca ensinou a língua e os costumes. A antropóloga conta que ele redescobriu as raízes e hoje é um dos líderes de seu povo. Histórias como essa repetem-se por todo o Brasil. "Não há caminho curto para o fim da injustiça social. Mas esses princípios devem estar na educação das crianças, na escola. A história de Pedro é a história do povo brasileiro", fala Betty, que entende a decisão do STF como um retrocesso.


"Não vejo porque é tão difícil para a sociedade entender os povos indígenas. É como a poesia de Cecilia Meireles: Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda..."



Muitos índios têm um nome "branco" e um indígena. O sobrenome, muitas vezes, identifica a etnia a qual pertencem. Assim, Azelene é da etnia Kaingang, do Paraná, e Cipassé, Xavante de Mato Grosso.
» Mesmo que pareça estranho, uma convenção da Associação Brasileira de Antropologia estabelece que não se faz uso de plural para nomes de etnias. Portanto, falamos em "os Suruí".
» Segundo dados oficiais da ONU, são cerca de duas mil etnias e 370 milhões pessoas que se consideram indígenas no mundo.
» Atualmente, as terras indígenas compõem cerca de 13% do território nacional.




Artigo de Júlia Magalhães




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Fontes:


Fundação Nacional do Índio (Funai)


seiva de toda a terra (e _________________ CRAVOS)



[ não há incêndios que salvem o odor do feno. estalam escamas.ardem os frutos. como golpes. cavos.]


C R A V O S._______________.



Um BEIJO inaugural. infinitamente belo



domingo, 5 de abril de 2009

em língua de gavetas

Fotografia Flor Garduño











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redemoinho de
disputas íntimas
poço
profundo em segredos
repositório
palheiro de agulhas
caixa falante
em língua de gavetas


" Cómoda ", poema de Carlos Augusto Lima ( Fortaleza 1973)


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"O Bê-á-bá dos Ciganos”

Tâmara (fotografia d`AQUI)
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A notícia de uma turma exclusiva de ciganos numa escola de Barqueiros voltou a relançar a polémica sobre a melhor maneira de integrar estas crianças. Mas o debate talvez tenha passado ao lado do essencial. Quando surgiu o Rendimento Mínimo, nos anos 90, os ciganos começaram a chegar às escolas em grande número. Ninguém estava preparado; nem as escolas, nem as crianças, habituadas a uma cultura do “posso, quero e mando”. Com a crise da venda ambulante, os pais começam a aceitar, e até a desejar que os filhos tenham uma educação com futuro. No entanto, para que isso aconteça é preciso investir na educação pré-escolar e valorizar o papel dos mediadores socioculturais.


Ouça aqui "O Bê-á-bá dos Ciganos, uma grande reportagem TSF



______ obrigada Mirna





Há pensamentos que são orações.
Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos




Victor Hugo

sábado, 4 de abril de 2009



















Esplêndida
Cesário Verde




Ei-la! Como vai bela! Os esplendores
Do lúbrico Versailles do Rei-Sol
Aumenta-os com retoques sedutores.
É como o refulgir dum arrebol
Em sedas multicores.
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Deita-se com languor no azul celeste
Do seu landau forrado de cetim;
E os seus negros corcéis que a espuma veste,
Sobem a trote a rua do Alecrim,
Velozes como a peste.
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É fidalga e soberba. As incensadas
Dubarry, Montespan e Maintenon
Se a vissem ficariam ofuscadas
Tem a altivez magnética e o bom-tom
Das cortes depravadas.
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É clara como os pós à marechala,
E as mãos, que o Jock Club embalsemou,
Entre peles de tigres as regala;
De tigres que por ela apunhalou,
Um amante, em Bengala.
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É ducalmente esplêndida! A carruagem
Vai agora subindo devagar;
Ela, no brilhantismo da equipagem,
Ela, de olhos cerrados, a cismar
Atrai, como a voragem!
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Os lacaios, vão firmes na almofada;
E a doce brisa dá-lhes de través
Nas capas de borracha esbranquiçada,
Nos chapéus com roseta, e nas librés
De forma aprimadora.
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E eu vou acompanhando-a, corcovado,
No trottoir, como um doido, em convulsões,
Febril, de colarinho amarrotado,
Desejando o lugar dos seus truões,
Sinistro e mal trajado.
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E daria, contente e voluntário,
A minha independêndcia e o meu porvir,
Para ser, eu poeta solitário,
Para ser, ó princesa sem sorrir,
Teu pobre trintanário.
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E aos almoços magníficos do Mata
Preferiria ir, fardado, aí,
Ostentando galões de velha prata,
E de costas voltadas para ti,
Formosa aristocrata!




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imagem do filme A Corte do Norte de João Botelho, que conta a história de Emília de Sousa, a maior actriz que o teatro português conheceu nos finais do séc. XIX, que abandonou por uns anos a carreira para se casar com o rico madeirense Gaspar de Barros e transformar-se na Baronesa da Madalena do Mar. Tão bela quanto Sissi, a Imperatriz da Áustria, com quem conviveu no Inverno de 1860/61 decidiu construir um mistério que perdurou por quatro gerações e por mais de um século.










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bendito é o fruto



Fotografia d` AQUI

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