terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sebastião da Gama - Milagre de vida em busca do eterno




"Sebastião da Gama — Milagre de Vida em busca do Eterno", é um trabalho pioneiro, o que não abunda nos nossos Estudos Literários, e um trabalho sobre um Poeta optimista, o que ainda mais raro é. Sobre o Poeta que Sena detestava (não é difícil perceber porquê) e Mourão- Ferreira ou Lygia Fagundes Telles amaram, Alexandre Santos fez o primeiro estudo de fundo, tendo preenchido um estranho e óbvio oco nos nossos Estudos Literários.» (Prof. Doutor Rui de Azevedo Teixeira)
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como pássaros ou anjos in.divinos


Pintura William Bouguereau




se o pulmão fora pétala e a rosa um campo minado e a casa o coração da música serias tu o meu sul na volátil geografia do caminho certo.
se nada nos distraísse da miséria e das patas sobre o corpo e dos segredos irredutíveis numa página de temperatura gelada serias o meu sentido único sobre as cinzas.




isabel mendes ferreira

AQUI ao piano. divinamente










somos assim. imperfeitos e vadios nas emoções



Liturgia do Novo Ano


___________________________________________________ Banalidade de actos do Mal, expressão criada por Hannah Arendt, em sangue vivo, numa guerra assimétrica, déja vu ... ás portas de 2009.










mié disse...





... não existem milagres que rasguem véus ou façam nascer flores nas lamas do petróleo.


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Entretanto, vou estando por aqui http://www.palestinalibre.org/ atenta.


domingo, 28 de dezembro de 2008

Música eterna











Rumor obscuro da chuva
Idêntico e antigo
Acalentando a noite
Dança de folhas despercebidas
Mata em sussurro
Claro ritmo das chamas
Alegrando as lareiras.

Helena Kolody (1912 - 2004)







Amo esta pequena escultura em terracota. Prenda de Natal de amigos longínquos ... acompanha-me há anos.




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terça-feira, 23 de dezembro de 2008





Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.


Simplesmente não há palavras.


(...)



Sobre a Escrita...
Clarice Lispector

domingo, 21 de dezembro de 2008

Estavas, linda Inês, posta em sossego ______________







O espírito do Natal ...


http://www.jahichikwendiu.com/main.php



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"O espírito do Natal tem de fazer parte dessa humanidade que não pode fugir do aconchego da nossa consciência de homens. E de homens solidários. O espírito de Natal tem de ser entendido como algo de autenticamente revolucionário, que nos ensina a resistir à adversidade e nos testa quotidianamente na nossa mais genuína fraternidade. Resistir aos tempos que nos querem matar o que de humano existe em nós, essa é a matéria dos sonhos que nos devem mover. Resistir às intempéries da venalidade, da boçalidade, da brutalidade, da desumanidade. O espírito de Natal é o que leva os poetas a nunca esquecer o horror, mas a desenhar grinaldas de esperança, lá onde só parece existir o desespero." (excerto)


Lauro António

Texto completo AQUI VáVá vadiando de Natal

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Palestinian lovers



Divine Intervention يد الهية
Realização e argumento, Elia Suleiman , 2002

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__________________ uma aflição mental

Entre o caos e a harmonia. A cegueira pensada é uma aflição mental, uma das formas do isolamento porque a invisibilidade não é obstáculo: é apenas um fenómeno subtilíssimo da ausência. Na criação tudo é potencialmente uma entidade distinta da matéria, uma improbabilidade, porque, como diziam os antigos, diante da luz somos todos cegos.
Ana Hatherly, in 'Tisanas'
1








Somewhere I have never travel - Abbuehl, Susanne (April) 06

terça-feira, 16 de dezembro de 2008




O Fauno - Teresa Ribeiro



Improvisos atonais


Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL354476-7085,00.html



" Minha vida não estava em risco, mas quase fiquei asfixiado com a fumaça que me entrava pelo nariz e os olhos", explicou o artista. "Toquei até o piano parar de fazer sons. Travei com ele uma batalha de vida e morte ”.

Yosuke Yamashita


O pianista, de 66 anos, ofereceu numa praia de Ishikawa, no Leste do Japão, um concerto incomum para um público atônito de quinhentos espectadores. Deitou fogo a um piano que não usava e, ao pôr-do-sol, começou a tocar até que as chamas consumissem completamente, as cordas do instrumento.

Yamashita reeditou uma idéia ousada, o “piano em chamas”, para chamar a atenção para o Museu de Arte Contemporânea Japonês. A "paixão ardente" de Yamashita incendiou a plateia.



________________________ INSTANTES . CONSONANTES (Digo.eu)

Muntadar al-Zaidi lançou, no Domingo, os dois sapatos em direcção a George W. Bush. Num arremesso atonal _____________________________________________incendiou o mundo . Associação LIVRE de ideias ...





iv





Panja - Yosuke Yamashita

sábado, 13 de dezembro de 2008


Fotografia:

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Essas antiquíssimas dores não serão finalmente fecundas em nós? Será tempo de nos libertarmos, amando, da coisa amada … docemente como quem se desabitua dos peitos maternos.

______________________________________ Rainer Maria Rilke

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sintonias



______________ felizes



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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


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E SE OBAMA FOSSE AFRICANO?

Mia Couto






Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano?São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.Inconclusivas conclusõesFique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia
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Fotografia d`AQUI
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Fotografia: malwina de brade
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Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registo.
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Llansol















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O primeiro movimento da manhã é a escolha do vento; nada é indiferente ao corpo que acorda para mais uma descida pela vida; no ritmo da cor, escolhe um tecido, e seu feitio presente. Fica cingida a ele, desnuda a própria face. A caneta interrompe a narrativa do diário em bruto. O quarto vibra em tumultuoso silêncio. Deste modo se levanta e caminha para a visão que lhe é preciosa, tanto quanto a palavra da sua língua, tanto quanto a companhia dos companheiros ausentes e presentes.

Escreve no registo para as compras do dia

grão,

batatas,

água.





Llansol, Os Cantores de Leitura, p. 155

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