Porto de abrigo para múltiplas derivas e migrações, Setúbal é claramente uma cidade de culturas, um complexo artefacto de identidades, nem sempre decifráveis, nem sempre inter.comunicáveis, nem sempre hábeis na arte de inter.viver, socialmente disfuncionais, intermitentes e permeáveis ao "ruído" (ao spam gerado pela ignorância e pelo medo do outro).
O fora e o dentro, o ser e o não ser, são face da mesma moeda. Os museus operam com processos, ferramentas e categorias identitárias.
Recentremo-nos no caso em apreço: " Ser setubalense " é uma categoria identitária que constituíu tema de debate em Tarde museológica. A comunidade cresceu, diversificou-se, mas a forma de a pensar, de a nomear, não cresceu com ela. Intensificada a discussão, percebemos que esta ainda não comporta a ideia de que são setubalenses todos aqueles que, por uma razão ou por outra, têm Setúbal ( ou a sua metáfora ) inscrita.
As culturas desconfiguram-se e reconfiguram-se em diferentes momentos. Não há culturas fechadas, nem identidades fixas. Tudo é mutável, tudo resulta de uma complexa construção que precisa de espaço e tempo para se reconhecer e dar a conhecer. Na vertigem dos dias, na voracidade dos novos tempos, ainda se torna mais difícil. É tudo tão rápido e difuso que chega a ser angustiante. Abrir canais acessíveis à cognição, ao diálogo e à livre fruição. Viver e fazer a experiência. Usufruir plenamente dos serviços museológicos é um direito a que todos (sem excepção) devem ter acesso. Diferença não pode ser sinónimo de exclusão. O desenvolvimento, a participação e a não discriminação, são direitos consignados pela constituição. Estão decretados mas não interiorizados. Ainda não é coisa amada (sentida). Falta dar operacionalidade ao conceito de património pleno (desarrumar as ideias; desfazer as caixas do "material" e do "imaterial" e de outros modismos que nos confinam), deixar fluir, abrir os museus à diversidade. Valorizar os processos de mudança, transformar produtos finais (outputs) em resultados (outcomes) . Rever as narrativas, os conteúdos e as formas (que, por vezes são fôrmas). Expôr-se, mais do que expôr. Admitir novos modelos de comunicação e de representação.
As culturas desconfiguram-se e reconfiguram-se em diferentes momentos. Não há culturas fechadas, nem identidades fixas. Tudo é mutável, tudo resulta de uma complexa construção que precisa de espaço e tempo para se reconhecer e dar a conhecer. Na vertigem dos dias, na voracidade dos novos tempos, ainda se torna mais difícil. É tudo tão rápido e difuso que chega a ser angustiante. Abrir canais acessíveis à cognição, ao diálogo e à livre fruição. Viver e fazer a experiência. Usufruir plenamente dos serviços museológicos é um direito a que todos (sem excepção) devem ter acesso. Diferença não pode ser sinónimo de exclusão. O desenvolvimento, a participação e a não discriminação, são direitos consignados pela constituição. Estão decretados mas não interiorizados. Ainda não é coisa amada (sentida). Falta dar operacionalidade ao conceito de património pleno (desarrumar as ideias; desfazer as caixas do "material" e do "imaterial" e de outros modismos que nos confinam), deixar fluir, abrir os museus à diversidade. Valorizar os processos de mudança, transformar produtos finais (outputs) em resultados (outcomes) . Rever as narrativas, os conteúdos e as formas (que, por vezes são fôrmas). Expôr-se, mais do que expôr. Admitir novos modelos de comunicação e de representação.
A comunicação entre culturas de diferentes etnias, nacionalidades, géneros, gerações, profissões, e as demais condições (nomináveis e inomináveis), é um processo lento, difuso, jamais acabado. Vai-se cumprindo timidamente nos gestos mais escondidos, em notas sensíveis, que só se revelam através do estreitamento das relações interpesssoais, da minúcia dos olhares, da escuta cerimoniosa, de subtis entendimentos. Estreitam-se na mútua confiança; na abertura crítica (e metódica) aos mundos próximos e distantes.
O aturado trabalho de campo que o Museu do Trabalho Michel Giacometti tem vindo a realizar com os diferentes grupos na comunidade, reforça a ideia de que as pulsões dominam as memórias e que as comidas e os modos de cozinhar, são sofisticados laboratórios de criação e hibridação das culturas. Processos alquímicos que buscam a essência (o in.manifesto); gestos repetidos que operam adaptações históricas (transmissíveis e transmutáveis). A pulsão de comer aguça o engenho, impõe a mistura de sabores, jeitos e trejeitos emergentes, que se fundem em fervilhantes panelões interculturais.
O aturado trabalho de campo que o Museu do Trabalho Michel Giacometti tem vindo a realizar com os diferentes grupos na comunidade, reforça a ideia de que as pulsões dominam as memórias e que as comidas e os modos de cozinhar, são sofisticados laboratórios de criação e hibridação das culturas. Processos alquímicos que buscam a essência (o in.manifesto); gestos repetidos que operam adaptações históricas (transmissíveis e transmutáveis). A pulsão de comer aguça o engenho, impõe a mistura de sabores, jeitos e trejeitos emergentes, que se fundem em fervilhantes panelões interculturais.
Talvez por isso, a praça de Setúbal, o belíssimo " Mercado do Livramento ", seja citado por setubalenses alentejanos, setubalenses algarvios, setubalenses Murtoseiros (varinos), setubalenses africanos, setubalenses chineses, setubalenses russos, setubalenses romenos, setubalenes goeses, setubalenses timorenses, setubalenses brasileiros, setubalenses pasquistaneses (quer flor ?), e ainda outros setubalenses, como um sítio de referência.
Um lugar de memórias. Um incontornável ponto de encontro.
E se o Museu fosse um grande mercado de marcas identitárias ? Resposta múltipla e colorida aos mais diversos sabores; ás mais intensas pulsões ? Um lugar de referência. amável. inspirador. atento. socialmente util ? Primordial como a vida. vivo.
Os comeres e a música são vida e ritmo, respiram e transpiram culturas/misturas.
A língua, mater dolorosa de Natália Correia, a cal o pão e o vinho.
O tradicional mercado ( metáfora contemporânea da ágora ou do Rossio) refuncionalizou-se para melhor servir, tornou-se "necessariamente" intercultural. Nas falas de outros falares ele faz sentido, está na rota das necessidades, é util e incontornável; para sobreviver teve que ser.
O tradicional mercado ( metáfora contemporânea da ágora ou do Rossio) refuncionalizou-se para melhor servir, tornou-se "necessariamente" intercultural. Nas falas de outros falares ele faz sentido, está na rota das necessidades, é util e incontornável; para sobreviver teve que ser.
E se o museu fosse ?
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in " Interculturalidade: culturas (re)configuradas "
Isabel Victor
Museu do Trabalho Michel Giacometti
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Sugestão de leitura: ELIAS, Norbert e SCOTSON, John L.: Os estabelecidos e os Outsiders
ao teu ritmo.
ResponderEliminarplanto-me.
e
resguardo.
e sorrio-te. sempre em IV.