segunda-feira, 9 de março de 2009

Guardadora de rebanhos (na pastorícia da palavra)





desfeitos os laços. polpa e pântano. folhagem. adeus. redondo o perfume.
hei de ser a outra tua face. estrangulada de lírios.
nós de seda. e de aço. nós. as duas no mesmo ventre. o laço.



________________para i.v._________________



Publicada por isabel mendes ferreira em Livro invisível




assim a mudança. o repouso. a expressão quieta que amacia o perfil dos dias.___________________e em rigor o belo é uma estrófe. moeda de troca para uma oração concessiva.


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voltar ao incerto dia da fruição do silêncio voltar à percepção de um divino poético onde a voz é nua onde a nudez é solar onde o quase tudo é apenas um ponto uma nota um sussurro.
voltar através de um fio de água para bordar de coerência um sossego que seja vegetal.


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desconstruir-te.a mil tempos e vozes. para voltar a denunciar o dócil e o indomável. ser desfolhagem de segredos que incomodam. respirar o primaveril como se a dança fosse vertigem. cúpula de gritos em vez de parágrafos silvestres.
desnudo um ombro teu. apenas. revelo-te a cintura. despenho-me.
aparecer e desaparecer como se de luz fosse quase tudo. dar-te a água visível e um dia de veludo.
o máximo é sempre inocente quando a palavra brilha na pastorícia da metáfora.


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e não sei das possíveis espigas. entardeço à sombra do incerto.aveludo-me de baldios onde a palavra é muda. e tudo muda. das veias para o peito numa renda fina. que se abre em rosa. flor sanguínea.


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há quanto tempo não te amava assim. lisboa.fragmentada de águas . memórias inchadas de prazer. assim caída nos meus ombros à deriva por outros mares outras marés outros cheiros mas sempre rente à música do teu ventre inclinado para o tejo.há quanto tempo não te fazia e dizia amor nos dentes. amor nas ancas dedilhadas por farpas e guitarras e vielas...assim te desdigo saudade. e volto aos teus flancos como gaivota em dezembros líquidos e densos.oleosos. florestais. lisboa de um piano que finalmente se cala.neste aqui. que já foi tanto. mesmo quando tocava sangue e silêncio.não é de adeus que te falo. é de mais longe. de mais logo. de outro lugar.as árvores dão ramos. que fazem de ninho. onde me aninho. e beijo-te lisboa. de teclas acesas. amanhã.outro rio. e voltar é o princípio.


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o fôlego enquanto estio tece o futuro acima das brechas. a manhã é sempre dia no destino das pedras. metade do sol desvia a distância e tudo se resume ao salto. de ti. tigre. amansado pelas águase não fora o brusco oráculo viria o teu corpo dos mares qual flor viril e vigilante vigiar-me o rumor dos dias. assim despes a poeira e iluminas-me a pele. o vermelho é duro abre-se e solta-se no musgo das tuas costas. solto um gesto de música. é verão nas tuas ancas.e tudo o que sobra é litoral. língua que escorre ao lado da sombra.templo. o fogo era só vestígio leve cru espada e da lama do tempo faço a ponte.faz-se tarde para lavrar o dia. é cedo para escavar-te a noite.deslizo no subúrbio da tua inconsistência.foste um risco. e de nada te serve a flutuante perfeição.


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e se te dissesse que somos contemporâneos da litania da loucura urbana?tu mais de Goethe eu mais da Síria. nós pó do mundo.e o mundo seco de nós. incondicionais fluxos. rebentação de protões que os olhos não dissecam e a alma não canta.disse-te a chave. e o dia nasceu. biográfico. como proust sem tempo. achado no chão de uma metáfora. brevíssima.


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tudo o que tenho para dar é este fio.melancólico frio. apelo de pele pastoril.recato de flauta enquanto guardo a montanha e o deslize das águas.veloz natureza a ser canto e chão. aberto. e nunca de estrelas.tecido propício ao vento. face a face na espessura do silêncio.


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venho do silêncio mais loba mais árabe menos faca antes farpa outro vestido a mesma capa.fui ao deserto. nasceu-me um filho.da terra vermelha. da terra sanguínea. da pele vestal sou agora outra muralha desabituei-me da planície. fiz-me à montanha. galopei-me. voltei. mais secreta. menos incerta. menos asa.mais de areia. menos perguntas. menos respostas. de esporas. quero menos. quero agora.só agora voltei. muitas mortes muitas viagens depois. para lembrar o que não esqueço.tudo o que trago nos traços da pele. lama. perfume.finitude que me cega claridades de cal. e que me afoga todos os afagos e cala as palavras e descola os gritos. como placenta como raiz.voltei para acordar do automatismo. do esboço. do risco.do retrato. do adjectivo. venho do silêncio das guelras da fome e do exótico. ramo sem folhas. sem reservas e dispersa. cénica. e nunca sedenta


Publicada por isabel mendes ferreira em Livro invisível



re.desenho o coração. em profético arrumo. exciso-me do in.vivido voo. (não me deixes assim) nua à poeira e ao vento ou em pétalas de chumbo. vou. sabes que iria antes do tempo. guarda-me. na avidez dos teus sonhos inimagináveis. na estranheza desnublada de um bosque sem caminhos.já muito pouco é resgatável na melancólica incumbência de qualquer vibração.ela chega na semelhança de um sentido único. compósita e afirmativa na razia dos mitos. vou.(não me deixes assim)chegas. tão viva como a morte.naturalmente linhagem confidencial de um corpo rendido.deixa-me assim. de mãos dentro do fogo.já desfiz a renda. em pós-silêncio de pó de adeus.


Publicada por isabel mendes ferreira em Livro invisível
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