domingo, 21 de janeiro de 2007

Pecado


Nas aldeias antigas, as mulheres do campo
esperavam o princípio da tarde para correrem
no meio das searas, em busca de uma clareira
onde se pudessem despir, para que o sol,
descendo à terra, as pudesse possuir. O fogo
que nascia dos seus lábios pegava-se à erva,
e durante um instante toda a seara ardia,
sem fogo nem fumo, apenas com o desejo
que se soltava da sua boca, e ia apagar o sol,
nas tardes em que a noite caía mais cedo.

Espreitei essas mulheres quando voltavam
das searas, e nos seus olhos traziam um cansaço
de amor. Acompanhei-as às suas casas, e vi-as
deitarem-se contra a parede, olhando os seus
rostos no espelho que as velhas seguravam.
Tinham no rosto um princípio de melancolia;
mas diziam-me que a noite resolveria tudo,
quando a sua cabeça se enchesse de sonhos.
«Que queres daqui?» perguntavam-me. E eu
pedia-lhes que me guardassem a imagem
do espelho, em que a eternidade se dissipa,
como o seu sorriso no rescaldo do prazer


Nuno Júdice @ 12:46

http://aaz-nj.blogspot.com/2006_06_01_aaz-nj_archive.html

3 comentários:

  1. Que lindo poema! Nãoconheci, embora tenha dois livros do Judice e goste bastante do que escreve. Lembra-me as histórias que a minha mãe contava e que fui reencontrar no Torga, dos contos sobre bruxas e atividades claestinas de mulheres em Trás-os-Montes.

    Gostei do teu coment, vou adorar tomar um chá com natas em fevereiro! beijos

    ResponderEliminar
  2. meu Deus, tá cheio de gralhas, mas dá pra entender e nao tenho tempo de corrigir. Sorry.

    ResponderEliminar

Seguidores

Povo que canta não pode morrer...

Arquivo do blogue

Pesquisar neste blogue