sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

As histórias de vidas (comuns ?) também podem ser matéria museo(lógica) ...

Ontem deixei um desafio ao Tó

in http://www.ai-o-camandro.blogspot.com/


Realmente isto será mais uma odisseia que um simples desafio mas vamos lá, aceito o repto. Comecemos então pelo básico... Será a pergunta: "O que querias ser quando eras pequeno?" ou ainda e sempre: "O que queres ser quando fores grande?" - Para responder à primeira terei primeiro de estipular quando deixei de ser pequeno, o que por si só se afigura uma ardua tarefa. Além disso compreendam a dificuldade de organizar cronologicamente todos os sonhos que tive (E ainda tenho).
Ok, estou a complicar, comecemos pelo inicio.
Digamos que antes da primária os meus verdadeiros objectivos eram muito simples, nunca sonhei em ser bombeiro, policia ou futebolista. A unica coisa de que gostava era de desenhar (principalmente bandas desenhadas), desenvolver estórias, fazer legos, criar e brincar com amigos imaginarios e pregar enormes mentiras, coisas mirabolantes e macabras com que eu atormentava os incautos com a minha já enorme capacidade de mentir. Foi este o inicio e provavelmente será este o fim desta odisseia.
Se bem me recordo, a primeira coisa que disse querer ser foi arquitecto, muito por influencia do meu pai que eu pensava sê-lo (Afinal não era nada disso mas para uma criança como eu era dificil perceber o que era um desenhador instrumentista de sistemas de oleodutos). Gostava de desenhar e pronto, arquitecto! O problema é que já então vivia em mim, por influencia da minha mãe, o gosto pelas ciências sociais e pelas artes performativas. Contudo esta primeira ambição foi ganhando consistência, ainda que pelo meio queira realmente ter sido desenhador de BD.
Como sempre a familia teve um desempenho fulcral no meu desenvolvimento... Eu realmente aliava um desempenho notavel em todas as áreas de estudo a uma mão muito firme, desenhava muito bem e ouvia sistematicamente o "tem jeitinho". A ideia foi ficando e os anos passando, eu estava realmente seguro de que seria arquitecto.
E depois BANG! Toma lá a adolescencia para ver se acordas! Aos quinze anos, convencido ainda de que seria arquitecto, decidi mudar-me de Setúbal para o Porto para completar o ensino secundário (via profissional) no, então muito conceituado, curso de desenhador projectista da Cooperativa Árvore. E foi o deslumbre, afinal o mundo e as potencialidades eram enormes! Mudei radicalmente, em tudo. Quando percebi o que era realmente a arquitectura detestei. Apaixonei-me pela música, comprei a minha primeira viola baixo e comecei a arranhar com os amigos. Enamorei-me definitivamente pelas artes performativas. Ainda não sabia o que queria ser mas, fosse o que fosse, tinha de ter público! Descobri a pintura e a literatura e foram tantas as descobertas que passado um ano e meio fui recambiado de novo para Setúbal para acalmar e acabar o 12º (Pelo menos...).
Chegado a Setúbal o reboliço continuou, ingressei no Agrupamento 2 (artes) e continuei a viver nos hobbies. Tornei-me membro de uma juventude partidária, fui bem sucedido, subi depressa e bem, achei mesmo que podia tornar-me politico de profissão. Até chegar o dia em que percebi que, afinal, a ideologia apregoada era apenas um meio para atingir um fim com o qual eu não me identificava. Protestei e fui convidado a sair do dito partido. No campo da música formei um bom grupo, tudo bons rapazes, que aliavam o pouco conhecimento na matéria a um enorme arrojo e a uma igual originalidade. A banda manteve-se por vários anos, demos concertos de norte a sul, apareciamos em jornais e revistas da especialidade, criou-se até um grupo de fans (Haha)! A coisa corria bem e claro, eu queria ser musico!... Entretanto por esta altura, dediquei-me à organização de eventos, espectáculos e concertos e também isso me cativou (Não me lembro mas também devo ter sonhado em tornar-me produtor de espectáculos).
Inacreditavelmente não descurei os estudos, nunca precisei de estudar pelo que ir às aulas me bastava para is fazendo as disciplinas, sempre ali na média do catorze, o que me permitia continuar a sonhar por fora. E ao acabar o 12º tive mais uma visão, vou ser designer! Inscrevi-me... O problema é que nessas férias fui a um casting para uma peça de teatro com o pessoal amigo. Era suposto ser uma brincadeira mas eu fui seleccionado... Começaram os ensaios, eu deixei-me envolver e lá vamos nós outra vez! Em Setembro já nem queria ir para design nenhum, eu seria actor! Mas à ultima hora lá recuperei o juizo e matriculei-me.
Design de Comunicação e Técnicas Gráficas em Portalegre, durou ano e meio e percebi que não era para mim, demasiado parado.Voltei para Setúbal completamente perdido, confesso que foi provavelmente a pior altura da minha vida no que toca à definição do meu futuro... Decidi voltar atrás. O que é que, mais que tudo o resto, ainda me apaixonava? A música. Trabalhei durante seis meses numa loja de cds, continuei a dar concertos, a gravar algumas coisas com a banda que ainda mantinha e comecei à procura de algum curso ligado à produção musical. E foi durante essas pesquisas que encontrei a Escola Superior de Teatro e Cinema. Relutantemente fiz as provas de acesso, convencido de que não entraria pois a maioria dos que concorriam já o faziam pela segunda ou terceira vez e sabiam tudo sobre a matéria, eu não. A Rute (minha namorada) foi fulcral por esta altura, confesso que sem ela não teria levado as provas até ao fim, tal era a minha descrença. Surpresa das surpresas, entrei!Supostamente acaba aqui a história mas cinema é uma coisa vasta, demasiado vasta... O curso não o acabei, decidi desistir a seis meses do fim porque já não me estavam a ensinar nada de novo. Contudo a paixão pela actividade manteve-se até hoje, trabalho em pós produçao audio embora não seja este o meu derradeiro objectivo. Sou feliz por estar onde estou, trabalho com os nomes mais sonantes da produção nacional mas não desenvolvo (ainda) uma actividade que me apaixone. Digamos que agora, aos 27 anos, volto finalmente às raizes, percebo que o cinema me serve como veiculo para contar estorias, para perpetuar a minha ansia de iludir o proximo com mentiras extravagantes, com ficção. Digamos que procuro, no cinema, voltar às minhas actividades de criança. Foi duro aqui chegar mas acredito que percorri o meu caminho e que este foi importante para hoje desenvolver o meu trabalho... Sabendo no entanto que, se voltasse atrás, tudo seria diferente. Provavelmente tinha enveredado pelas ciências sociais, tinha feito sociologia ou antropologia e só depois cinema (Sim porque, no meio de todas estas indefinições, de uma coisa estou certo. Descobri uma actividade capaz de abordar muitas outras e talvez seja realmente isso o que eu procuro).
Pelo meio ficam outras estórias, muitas. Desde querer desistir de tudo e correr mundo com a mochila às costas. Tornar-me operário da construção civil, onde trabalhei, para não ter de me chatear com as minhas próprias indecisões. Ser, apenas e só escritor. Trabalhar como vendedor na Cabovisão. Dedicar-me ao cooperativismo. Desenvolver o documentarismo jornalistico. Sei lá, foram tantas...
Portanto a pergunta mantém-se e, para alguém como eu, faz-se diariamente: "Pensa bem, o que queres ser quando fores grande?"

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