domingo, 4 de fevereiro de 2007

Fernando Sylvan ( Dili 1917 - Cascais 1993)

Não tenhas medo de confessar que me sugaste o sangue
E engravataste chagas no meu corpo
E me tiraste o mar do peixe e o sal do mar
E a água pura e a terra boa
E levantaste a cruz contra os meus deuses
E me calasse nas palavras que eu pensava.

Não tenhas medo de confessar que te inventasse mau
Nas torturas em milhões de mim
E que me cavas só o chão que recusavas
E o fruto que te amargava
E o trabalho que não querias
E menos da metade do alfabeto.

Não tenhas medo de confessar o esforço
De silenciar os meus batuques
E de apagar as queimadas e as fogueiras
E desvendar os segredos e os mistérios
E destruir todos os meus jogos
E também os cantares dos meus avós.

Não tenhas medo, amigo, que te não odeio.
Foi essa a minha história e a tua história.
E eu sobrevivi
Para construir estradas e cidades a teu lado
E inventar fábricas e Ciência,
Que o mundo não pode ser feito só por ti.

Fernando Sylvan *
" Mensagem do Terceiro Mundo "

* participante activo da Resistência Maubere, foi presidente da Sociedade de Língua Portuguesa, poeta, prosador, dramaturgo e ensaísta (morreu no dia de Natal)




1 comentário:

  1. Lindo poema. Gostaria de tempo apra comentar com calma. Anda raríssimo aqui... mas eu volto... com a música prometida e ainda não cumprida. Bjs,

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