segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010






Horas antes esta esplanada era um sítio amável onde se tomava chá com scones e doce de maracujá.





Funchal, Sábado, 20 de Fevereiro _ 2010










Para o que aconteceu depois não tenho palavras
Foi tão brutal, tão insólito, tão duro
A ilha parecia de papel
(...)





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A propósito de filmes e ambiente ... vale a pena espreitar este blog

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010








Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.



__________
"Poética", Manuel Bandeira















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Parto para as ilhas _______________ ausento-me por uns dias. Dever a quanto obrigas ...
Deixo-vos imagens um dia de sol, frio e vento, a bordo de "La Rosa d`Elche", o sabor a mar e amigos  e a "Poética" de M. Bandeira a sacudir o adormecimento.





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A Arquivista é uma nova revista cultura, da responsabilidade da FADE IN - Associação de Acção Cultural. Ao longo de mais de 100 páginas recebe contributos inéditos de valter hugo mãe, Paulo Kellerman, Tiago Baptista, Sílvia Patrício, Pedro Polónio, António Cova, Bruno Silva, Telmo Rodrigues, Clara Leão, Paulo Lameiro, Rui Ramusga, entre muitos outros. É o encontro das artes, testemunhos e ideias num objecto único. Letras, imagens e sons com periodicidade quadrimestral, a explorar a partir do passado dia 13 de Fevereiro.










Publicado por alice http://alicemacedocampos.blogspot.com/



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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

De repente, não mais que de repente . Fez-se de triste o que se fez amante (...) Vinicius




Desfile de Carnaval




[1941]
Desenho a guache e nanquim pincel/papel
25 x 28.8cm (aproximadas)

Washington, D.C.
Assinatura estampada no canto inferior direito "PORTINARI*". Sem data






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Coleção particular, Fortaleza,CE





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sábado, 13 de fevereiro de 2010


Doris Lessing (Nobel da literatura), retrato por Sara Facio


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Aprendizado é isso: de repente, você compreende alguma coisa que sempre entendeu, mas de uma nova maneira.



Doris Lessing
 
 
 
 
 
 
 
 










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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010



Roberto-Matta, Fingering Caprice (Homenaje a Paganini), 1982

Oil on canvas
88 x 100 cm
Private collection






Pintura para ouvir ________________________________________________________

Silencio-me ...

















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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010




"Eu sou a Hermínia: sou Hermínia, pronto, não tenho outra maneira de dizer"
Era assim, com esta simplicidade, que se autodefinia a maior cantadeira de Cabo Verde. Uma figura frágil, gestos tímidos ______________ uma deusa em palco! Natural do Mindelo, faleceu no Domingo. Os seus discos eram dificeis de encontrar. Fui comprando os que pude. São todos preciosos. Hermínia d`Antónia Sal, seu nome





domingo, 7 de fevereiro de 2010











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Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.




Clarice Lispector


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From: Museu Municipal S. Filipe - Fogo. Cabo Verde

Sent: Sunday, February 07, 2010 11:34 AM
Subject: [Fogo.Cabo Verde] Tarrafal Candidato a Património Mundial


O governo de Cabo Verde deverá ter pronta toda a documentação técnica da candidatura do Campo de Concentração do Tarrafal (norte da ilha de Santiago) a Património Mundial da Humanidade em 2011 ou 2012.

Segundo Carlos Carvalho, presidente do Instituto de Investigação e Património Cultural (IIPC) cabo-verdiano, a documentação do sítio histórico, já Património Nacional de Cabo Verde, será entregue logo que possível à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

É necessário, contudo, desenvolver mais trabalho para a apresentação de uma candidatura com substância, sendo precisas obras de reabilitação no também conhecido por "campo da morte lenta", definitivamente encerrado a 01 de Maio de 1974.

Fonte: Lusa, Diário Digital_07/01/10






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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Porque hoje é Sábado e (6) um número redondo







 _____________________________ estendo o olhar à Planície da Luz.

Referendo o Sul e o Sol reflectido nas águas paradas . espelho líquido ... de um lugar perene diluído no progresso.



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UTE LEMPER ~ Little Water Song

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010










As mãos escrevem nas pálpebras
a palavra astro
neste fim de tarde solitário.
A morte é a mais lúbrica das criaturase
e vem e vai
e pendura nas paredes
mil e uma fórmulas secretas
em que são iguais as quantidades de realidade
e do que a ela se opõe.
O vento está visivelmente cansado
arranhou-se num espinheiro
e corre-lhe pelo peito quente
um fio de sangue.
Qualquer coisa como música
advém do seu silêncio
e o olhar é uma ponte nitidíssima
entre duas realidades que não há.

Cruzeiro Seixas
in "A única tradição viva"
Perfecto E Cuadrado
edição Assírio & Alvim




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Tributo do Caderno de Campo a Rosa Lobato Faria ________________________ * )


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BIG ____________________________________________________





Fotografia: http://www.maggietaylor.com/







Bibliotecas pela Igualdade de Género



A UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta e a Divisão de Gestão de Bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa estabeleceram uma parceria no âmbito do Projecto BIG - Bibliotecas pela Igualdade de Género para tornar os espaços das Bibliotecas Municipais, locais atentos às questões de género!
Pela diversidade do seu público, pela predominância de frequentadoras/es jovens e pela antiga tradição dos livros se constituírem como arquitectos de sonhos e motores de mudança, as Bibliotecas Municipais constituem-se como espaços por excelência para a realização de actividades que visem a promoção dos valores da Cidadania e da Igualdade de Género.

Pretende-se, desta forma, lutar contra os estereótipos reprodutores da desigualdade de género e dar maior visibilidade às mulheres na história e na sua afirmação social e política.

O projecto dinamizou, em 2009, debates/conferências em seis das Bibliotecas Municipais de Lisboa no âmbito da temática «As Mulheres no Espaço Público»:


Biblioteca Municipal David-Mourão Ferreira
Biblioteca Municipal Natália Correia
Biblioteca Municipal dos Olivais
Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro
Biblioteca Municipal de São Lázaro
Biblioteca-Museu República e Resistência (Espaço Cidade Universitária)


Brevemente, no Museu do trabalho Michel Giacometti, em Setúbal, junto ao Miradouro da Fontaínhas / no mês de Março, Sábado, dia 6, às 15h, conferência por Isabel Lousada sobre  "As mulheres e a República", parceria com a SEIES)


http://blx.cm-lisboa.pt/fotos/gca/1233313495umar_desdobravel_vfinal.pdf





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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

adormecer (...) para sempre no seio tranquilo do Nada


A questão da identidade das ciberentidades e da ilusão de um conhecimento desencarnado pode ser iluminada através da experiência da fragmentação do sujeito e da dispersão heteronímica explorada por vários autores modernistas, entre os quais Fernando Pessoa (1888-1935). Em Pessoa existe constantemente uma tensão entre a desmaterialização do sujeito em mecanismos de consciência e a natureza profundamente sensorial da apreensão do mundo que resulta desses mecanismos. Quase como se a ausência se tornasse presença devido à intensidade emocional com que Pessoa a representa. Trata-se de presentificar o si perante si mesmo. A força do seu mundo mental parece sobrepor-se ao mundo externo da existência. Neste excerto, de um diário em inglês escrito em 1908 (Pessoa tinha então 20 anos), encontram-se muitas das obsessões, projectos e imagens de toda a sua escrita posterior:




Enfureço-me. Queria compreender tudo, saber tudo, realizar tudo, dizer tudo, sofrer tudo, sim, sofrer tudo. Mas nada disso faço, nada, nada. Fico acabrunhado pela ideia daquilo que queria ter, poder, sentir. A minha vida é um sonho imenso. Penso, às vezes, que gostaria de cometer todos os crimes, todos os vícios, todas as acções belas, nobres, grandiosas, beber o belo, o verdadeiro, o bem de um só trago e adormecer em seguida para sempre no seio tranquilo do Nada.


Deixem-me chorar. [...]


Estou aqui sentado, a escrever à minha mesa, com a caneta na mão, etc., e de súbito acomete-me o mistério do universo e paro. Estremeço, receio. Desejo nesse momento deixar de sentir, matar-me, bater com a cabeça contra a parede.


Feliz do homem que pode pensar profundamente, mas sentir tão profundamente é uma maldição. Como descrevê-la? Horror sobre horror.

Fernando Pessoa, excerto do diário de Alexander Search, 30 Outubro de 1908, in Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, org. Richard Zenith, trad. Manuela Rocha, Lisboa: Assírio e Alvim, 2003, p. 91.

 
 
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Manuel Portela [15-16 Nov. 2003]
Fonte: http://www.ci.uc.pt/diglit/DigLitWebDdeDevaneios.html








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domingo, 24 de janeiro de 2010

Deus triste






Deus é triste.


Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.


A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.


Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.














Carlos Drummond de Andrade


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sábado, 23 de janeiro de 2010

investigação em progresso _______________________________







22 e 23 de Janeiro de 2010 - I Seminário de Investigação de investigação em Sociomuseologia


O objectivo principal deste seminário é a apresentação e discussão, em contexto académico, dos dados obtidos pelos diferentes projectos de investigação que estão a ser desenvolvidos pelos(as) doutorandos(as), no âmbito da Linha Principal de Investigação em Sociomuseologia do TERCUD.

O Seminário de Investigação constitui-se como um espaço vocacionado para a apresentação e partilha dos dados dos projectos de investigação na área da Sociomuseologia, desenvolvendo-se no âmbito da preparação de Teses de Doutoramento em Museologia.



Pretende-se, desta forma, aprofundar a reflexão sobre a investigação que se desenvolve em Sociomuseologia em Portugal; potenciar a reflexão dos(as) investigadores(as) sobre a situação, perspectivas e desafios da investigação em Sociomuseologia; reforçar e redefinir métodos de investigação e práticas científicas que promovam diferentes níveis de participação, saberes e percepções no cenário nacional da museologia.



O Seminário pretende suportar e aprofundar, as questões da investigação em Sociomuseologia, o seu objecto de estudo, as metodologias e os instrumentos de investigação em museologia.



ORGANIZAÇÃO:



Departamento de Museologia

Tercud – Centro de Estudos do Território, Cultura e Desenvolvimento
Faculdade de Arquitectura, Urbanismo, Geografia e Artes
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias



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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

cannibale

ce désir sauvage, certain jour,
de mêler du sang et des blessures
aux gestes contractés de l’Amour
et de percevoir, sous les morsures
qui perpétuent le goût des baisers,
les sanglots de l’amante, et ses râles…
ah! rudes désirs inapaisés
de mes noirs ancêtres canibales…



léon laleau
in: anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française, organizada por l. s. senghor


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citado por http://www.salamalandro.redezero.org/canibal-um-poema-de-leon-laleau-poeta-haitiano/



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A deusa. Quem é a deusa ?















Agostinho da Silva responde a André Abrantes Amaral, em entrevista gravada, em 1990,  numa manhã de Abril, no miradouro de São Pedro de Alcântara. no âmbito de um despretensioso exercício académico do 10º ano, realizado por três curiosos estudantes, para a disciplina de jornalismo.

(encontrei esta preciosidade navegando em http://observador.weblog.com.pt/arquivo/167568.html .
sigam-me ... )




AA O senhor professor é católico?



AS – Olhe não sei, se sou, se não. Sabe? __________Não me sinto autorizado... Se eu fosse o Papa... Mas como não sou, não sinto autoridade de decidir uma coisa dessas. Bom, uma das coisas que definem ser católico é ser baptizado, eu não consenti o baptismo, mas os meus pais acharam que me deviam baptizar e baptizaram, não é assim? Bem, depois pergunto: O que é ser católico? Perguntam-me: “ É católico?” Por exemplo baptizado, “ sim senhor, sou baptizado.”

Agora se me perguntam, se acredito num Deus criador do mundo, digo “ Querido amigo que grande atrapalhação.” Se vou para a física, o físico não diz o mundo, o físico diz o universo não foi criado. Mas há que estabelecer uma diferença entre universo e mundo? Claro que há!

O universo é um termo que resume tudo: Imaginado e não imaginado. E o mundo? O mundo, e agora vou dar a grande novidade, o mundo é um adjectivo. Toda a gente acha que o mundo é um superlativo, mas não, é um adjectivo. É um adjectivo, porque se pensarem, o contrário de mundo é imundo. E imundo toda a gente acha que é um adjectivo. Então se imundo significa sujo, complicado, alguma coisa de que me afasto, mundo o que é? Significa límpido e puro. É verdade! O Camões tem uma frase em que fala das limpas almas. São almas puras, almas límpidas. Então o mundo o que é? É aquela parte do universo, que nós percebemos. O universo pode ser infinito, sabe-se lá o que há. Mas o mundo, é aquilo que eu percebo. Agora se eu digo: “Deus criou o mundo.”

Vocês perguntam: “ Mas você acredita que Deus criou o mundo?” Se, o mundo, as possibilidades de ele se conhecer no universo, me é dada por alguma coisa fundamental, no dito universo, eu aceito que sim. “É a criatividade?” “Hã?”. A única coisa que não foi criada no mundo é a criatividade. Essa não podia ter sido criada porque ela é ela própria. Mas se o senhor me diz: “Então, você acredita que há criatividade no mundo?” Como não hei-de acreditar? Está no próprio universo, na cor das asas das borboletas, na matemática que se vai inventando, naquilo que se sente na vida, em qualquer dessas coisas, Então você diz: “ Deus é a criatividade” Vamos a isso. Mas o Papa concordava com você? Ele não. Mas o que há é uma ultima instância da Igreja católica, que é o Papa ou o Concílio, o que vocês a quiserem nesse sentido. Cada coisa, quando se resolve fazer isto ou aquilo, tem que se chegar a todas as espécies de definições.

Bem então o próprio Cristo: Cristo é considerado na igreja, O filho de Deus. O que significa isto, ser filho de Deus? Claro que se há um Deus criador do mundo, no primeiro momento antes de ele criar o mundo esse Filho aconselha Deus a esconder que ele existia, portanto havia uma segunda personagem, que se pode dizer filho da primeira personagem e acusando o ouvir o divino em si mesmo o que dá perfeitamente a questão do Espírito Santo. Bem portanto, o difícil, não é ser católico, o difícil é não ser outras coisas também. Se eu disser assim: Você é dos Judeus?” “Sim.” Então acredita no Deus criador mas não em Cristo. Porque ai houve logo uma reivindicação. “Então e os deuses que tinham os gregos, que tal? “Muito bem, acredito; Sim. Naquele ideal de ter liberdade, nessa coisa toda.” Mas há uma coisa que eles nunca conseguiram: Foi verem-se livres das prisões de espaço e de tempo, que prendem o homem, que não deixam ser tão alto como eram os deuses, que eles imaginavam. Mas há alguma hipótese de ser, de chegar a isto? Talvez haja! E então sito Camões. Então sito Camões, onde? Na ilha dos amores e você diz: “Então quem é este, que sita a ilha dos amores?” Claro. O Camões disse: “ Enquanto se trata de cumprir uma empresa, todos nós temos de ser disciplinadíssimos” Senão como é que o Vasco da Gama chegava a Índia? Mas depois de cumprir a empresa, a nossa obrigação é sermos nós próprios.” Todos aqueles marinheiros que desembarcaram na ilha dos amores, eles já não são mais marinheiros, nem coisa nenhuma, eles são eles próprios! O que é que fazem na ilha? Isso é extremamente interessante. Eles primeiro livram-se do corpo, esquecem-se que têm corpo. Se alguém vos perguntar: “ Qual é a primeira coisa para uma pessoa se esquecer que tem corpo?” Bem, uma economia que satisfaça todas as necessidades, e depois uma ciência que ajude a superar a doença quando ela aparecer. Bem e o que é que acontece? Eles por exemplo livraram a cabeça de toda a espécie de pesadelos que o corpo cria e ficaram com a cabeça limpa, para escutar quem? A deusa. Quem é a deusa? É o nome que Camões dá a criatividade. A deusa fala aos portugueses e o que é que acontece? Acontece que ele conhecem o futuro e vêm-se livres do tempo, sabem o que acontece do outro lado do mundo, porque a deusa lhes mostra a máquina do mundo, lá ao longe e diz: “Estão fora do espaço.” Portanto livres de impostos, livres do tempo e do espaço, prontos a ouvir a deusa e a nascerem com a criatividade. E onde é que nós achamos a criatividade no mundo? Na arte, na ciência e na mística. Portanto, quando o homem pretende lançar-se à arte, à ciência e à mística ou à metafísica ou à filosofia, como vocês quiserem, o homem casou-se com a deusa. Então Camões foi o único a falar nisso? Não! O outro que falou nisso foi Vieira! E o jesuíta a par do aventureiro? E o jesuíta a par do aventureiro! Claro que as receitas que dá o Vieira, para a pessoa se livrar do corpo, não são as mesmas que deu o Camões. São a meditação de qualquer religião que a pessoa tenha, e mais, isto aquilo de preceitos e aquela coisa roda. Para ouvir a voz de quem? O Vieira não diz a deusa, diz Deus. Que também é criatividade. Portanto no século XIII, com Camões e com Vieira, uff, isto...
E depois ainda com Pessoa, os portugueses recebem todo este conceito do estimulo da história, e estudando o programa dos descobrimentos é que havemos de fazer os descobrimentos do futuro: Como é que nós vamos caminhar, para estarmos com a nossa vida bastante livre e promovida por nós próprios, para podermos fazer a arte, fazer a ciência, fazer a mística, casando-nos com a criatividade. Vocês então perguntam: “ Excepcional, como é?” Pois até agora, só estivemos raciocinando, não estivemos fazendo poesia nem sonho. Simplesmente, estamos presos às coisas, que tem de se dar tempo a que o pão rebente, e primeiro devemos ter uma prática exactamente como temos o sonho, e toda a nossa vida deve ser o levar a prática a coincidir com o sonho, ou seja, fixar o horizonte tanto que se amplie esse mesmo horizonte.





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sábado, 16 de janeiro de 2010

Terramoto. magnitude 7. Haiti .16h53. terça.12.epicentro. Leogane












______________________________________ A desgraça rasgou dramaticamente o anonimato. Trouxe rostos à boca de cena (infelizmente suplicantes ... ) seria bom tê-los conhecido antes ________________________________




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le rappeur américano-haïtien Wyclef Jean (photo) appelle à la solidarité internationale.



http://www.france24.com/fr/20100114-artistes-haiti-morts-laferriere-trouillot-jean-seisme-wyclef-jean




"A chaque heure qui passe, nous apprenons la mort ou la disparition d'un artiste, assure le critique musical de FRANCE 24, Amobe Mevegue. Nous sommes par exemple sans nouvelles d'un groupe célèbre, Boukman. C'est une situation très inquiétante."



La chanteuse Emeline Michel, le groupe Tabou Combo, l'écrivain Dany Laferrière... Haïti jouit d'une scène culturelle très riche. Deux jours après le séisme, toute la communauté artistique est ébranlée.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010











"... como nos LIVROS ... nos romances de cavalaria, um amor cortêz ... "





elf

in "a nave dos amantes", ed corpos celestes, espaço sideral, sd









Em fundo, ouço as notícias tristes que sopram do Haiti
Desalento fustigado pela [incomensurável] tragédia  ...



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Fotografia: Jerry Uelsmann











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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010



Empty Plate, New York, 1947 © Irving Penn


(...) por mais estranho que possa ser o claustro e a palavra reiterada. como desaguantes pedaços de um coração chegam-me o mármore e a espada. amanheço pelo ruído de um tambor e com a chama do antigo. que é volúpia inconfidente. ai quantos ais são colisões e cálices de lata_________ai deuses de argamassa que assim nos são sangria. ah______quem dera ser a face de Eckhart.

divina vigília.



isabel mendes ferreira




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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

HOJE



Fotografia: Irving Penn





























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O dia não foi meu
e tantos outros que o não são
erro no calendário
ou voluntária distracção

E os dias que foram meus
gestos de outros são
que se dão a quem os quer
nos dias que o não são

E da pressa de os perder
do descanso de os contar
ganho vícios da noite
que me sabem perdurar




HOJE, Marcelino Vespeira
in " A única real tradição viva", ed. Assírio & Alvim













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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA PARA DIONÍSIO.






Cleopatra with the Asp (1630), Royal Collection, Windsor; Reni, Guido








É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.

Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu

Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

III
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência

E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.

A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?

IV
Porque te amo
Deverias ao menos te deter
Um instante

Como as pessoas fazem
Quando vêem a petúnia
Ou a chuva de granizo.

Porque te amo
Deveria a teus olhos parecer
Uma outra Ariana


Não essa que te louva


A cada verso
Mas outra

Reverso de sua própria placidez
Escudo e crueldade a cada gesto.

Porque te amo, Dionísio,
é que me faço assim tão simultânea
Madura, adolescente

E por isso talvez
Te aborreças de mim.
(...)




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[Júbilo memória noviciado da paixão (1974)]
[in Poesia: 1959-1979/ Hilda hilst. - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]






















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sábado, 2 de janeiro de 2010

Eu sou a fotografia _______________________________________________________








Hilda Hilst, s/d, s/l










"Nenhum sonho se cumpre. Um sonho é sempre o sonho de um sonho."




"A ditadura portuguesa foi de sacristia. A ditadura no Brasil foi de quartel." Quem fala assim, com conhecimento de causa, é Fernando Lemos, 83 anos de idade, radicado no Brasil há quase seis décadas. Fernando Lemos - surrealista que, como Man Ray, se notabilizou através da fotografia - é a memória viva de grande parte da melhor inteligência lusa e brasileira do século XX. Criador multifacetado e crítico felino do "português suave".

Fernando Lemos está em Portugal. Visitei, há dois dias, a magnífica exposição de fotografias (cerca de meia centena) da sua autoria na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão.



Até final de Fevereiro do novo ano, vale a pena ______________________
impressionaram-me sobretudo os retratos (cinematográficos) de Hilda Hilst, Lígia Fagundes Teles, Jorge de Sena, António Pedro, Jacinto Ramos, José Viana, José Cardoso Pires, Cesariny, Vieira da Silva e Sofia de Melo Breyner, entre outros, realizados nas décadas de 40/50 do sec XX. Um poeta da imagem, há mesmo quem lhe chame o "Agostinho da Silva da fotografia". Não arriscaria tal comparação, mas acho que se igualam no génio, na inquietação, na interpelação dos olhares, no arrojo do pensamento. Uma exposição a não perder com catálogo anunciado para Março. Até lá, está à venda na Fundação, pela módica quantia de quinze euros, o recheado catálogo de 188 páginas de uma outra exposição sobre a vida e obra deste fascinante e multifacetado artista; um belíssimo livro editado pelo Sintra Museu de Arte Moderna - Colecção Berardo, em 2005, por altura da exposição retrospectiva denominada " Fernando Lemos e o Surrealismo ".


Ler  AQUI entrevista /  Fernando Lemos: Eu sou a fotografia - Cultura - PUBLICO.PT








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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010: o ano do Contacto





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Votos de felicidades a legentes, amigas e amigos deste Caderno


Um prodigioso Ano






VivA !





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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009




Fotografia por Maria Avelino
 









Caiu sobre o país uma cortina de silêncio
a voz distingue o homem mas há homens que
não querem que os demais se elevem sobre os animais
e o que aos outros falta têm eles a mais
no dia de natal eu caminhava
e vi que em certo rosto havia a paz que não havia
era na multidão o rosto da justiça
um rosto que chegava até junto de mim de nicarágua
um rosto que me vinha de qualquer das indochinas
num mundo onde o homem é um lobo para o homem
e o brilho dos olhos o embacia a água
Caminhava no dia de natal
e entre muitos ombros eu pensava em quanto homem morreu
por um deus que nasceu
A minha oração fora a leitura do jornal
e por ele soubera que o deus que cria
consentia em seu dia o terramoto de manágua
e que sobre os escombros inda havia
as ornamentações da quadra de natal
Olhava aquele rosto e nesse rosto via
a gente do dinheiro que fugia em aviões fretados
e os pés gretados de homens humilhados
de pé sobre os seus pés se ainda tinham pés
ao longo de desertos descampados
Morrera nesse rosto toda uma cidade
talvez pra que às mulheres de ministros e banqueiros
se permita exercitar melhor a caridade
A aparente paz que nesse rosto havia
como que prometia a paz da indochina a paz na alma
Eu caminhava e como que dizia
àquele homem de guerra oculta pela calma:
se cais pela justiça alguém pela justiça
há-se erguer-se no sítio exacto onde caíste
e há-de levar mais longe o incontido lume
visível nesse teu olhar molhado e triste
Não temas nem sequer o não poder falar
porque fala por ti o teu olhar
Olhei mais uma vez aquele rosto era natal
é certo que o silêncio entristecia
mas não fazia mal pensei pois me bastara olhar
tal rosto para ver que alguém nascia






" Um rosto de Natal ", Ruy Belo - Todos os Poemas II. Lisboa: Assírio Alvim, 2004
 
 
 
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009





ALBERTO MUSSA ELOGIADO EM FRANÇA

A versão francesa de “O Enigma de Qaf”, de Alberto Mussa, estará oficialmente nas livrarias em Janeiro de 2010, mas mereceu já uma referência muito elogiosa na “Livres Hebdo”, revista de referência sobre literatura e mercado editorial, por um dos mais respeitados críticos franceses, Jean-Maurice de Montrémy: «Este livro teria encantado Borges e Cortázar» disse ele, e ainda: «O leitor só pode deliciar-se com a cultura, a imaginação, o requinte e a inteligência de Alberto Mussa».

Romance galardoado com os prémios da Associação Paulista dos Críticos de Arte (2004) e da Casa de Las Américas (2005), "O Enigma de Qaf" foi editado em 2008, em Portugal, pela Campo das Letras. Traduzido para inglês, espanhol, italiano e agora para francês, será lançado pela editora Anacharsis, uma nova editora que quer proporcionar ao público francês o imaginário de culturas distantes através de uma literatura exigente, inventiva e sofisticada.







Edição/reimpressão: 2006
Páginas: 224
Editor: Campo das Letras
ISBN: 9789896251109




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Pré - Natal

(Este livro "Qaf" já o tinha lido no ano passado, sensivelmente por esta altura. Recomendo-o vivamente, mas ontem, domingo, no ultimo domingo, antes do Natal, estive a ler um outro, uma novidade, que recebi de mãos amigas. Um saquinho surpresa, uma prenda de Natal antecipada, que saboreei com um chá perfumado, deliciosamente perfumado, que também me chegou, milagrosamente, como pré-anúncio de Natal. Foi bom ________________ o dia estava frio, puxava para casa. Foi onde fiquei, a desbravar as inúmeras páginas da minha prenda - "A Vertigem das Listas de Umberto Eco", um livro gordo, suculento, recheado de belos textos, antológico, rico em imagens, magníficas reproduções de obras de arte, que versam a repetição e os elencos para acentuar grandeza, magnificência, ideia de infinito. Esta obra fala-nos da coerência das listas, da musicalidade do elenco mas também do prazer vertiginoso de reunir elementos sem relações específicas entre si, como acontece nas denominadas enumerações caóticas.)

sábado, 19 de dezembro de 2009








Ontem na ADICENSE, em Alfama, mesmo junto ao Museu do Fado, foi assim como as imagens documentam (as fotografias não são boas, a máquina está a precisar de reforma (pedi uma mais moderna ao Pai Natal!), mas fica a intenção, a vontade de não deixar fugir o instante, a vontade de partilhar a emoção deste jantar _ canto livre, com Fanha, Francisco Fanhais, saudosas vozes. Em que o Vitorino cantou "Traz outro amigo também" e recordou que uma canção pode salvar uma vida. Na verdade, assim aconteceu com a canção que o Zeca dedicou ao Alípio de Freitas, um alerta que o tornou visível aos olhos do mundo. Uma noite para reunir amigos, cantadores, poetas e, sobretudo, para lembrar, cantando e contando ___________ que a liberdade é um bem perecível.
Uma noite de "quase Natal" para lembrar (e foi o Alípio que lembrou) que existe no céu, visível em noites de breu, uma constelação chamada constelação da utopia, para onde vão todos aqueles que, no mundo, tombaram (e que continuam a tombar) em defesa da Liberdade e dos direitos humanos. Eles tombam e a Terra recebe o seu corpo, mas não morrem, transformam-se em estrelas e essas estrelas desenham no céu a mais bela de todas as constelações. __________________________________________________


Ler mais em http://associabril.blogspot.com/

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009





Fotografia por sergio jacques












Esta noite está frio. Muito frio
Amanhã, se o frio continuar, arrancarei as  folhas ao caderno para fazer lume 


(se não fizer vento, continuarei a escrever nas cinzas)






Errante . Navegante
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“A era moralista tinha por ambição a disciplina do desejo, nós exacerbamo-lo; ela exortava aos deveres de cada um para consigo mesmo e para com os outros, nós convidamos ao conforto. A obrigação foi substituída pela sedução, o bem-estar tornou-se Deus e a publicidade o seu profeta.”


Gilles Lipovetsky, O Crepúsculo do Dever. A Ética Indolor dos Tempos Modernos, Lisboa, D. Quixote, 1994, p. 62.












Fotografia: Pedro Polónio
in http://club-silencio.blogspot.com/
















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domingo, 13 de dezembro de 2009





"As pessoas que dormem mal parecem sempre mais ou menos culpadas. O que fazem elas ? Tornam a noite presente."

_____________________é com esta desassombrada afirmação de Maurice Blanchot, que entramos no "Nocturno Indiano" de António Tabucchi _ 118 páginas de puro prazer ____________________

(Uma conjectura do autor é a de que este livro poderia servir de guia a um amante de viagens absurdas. E não deixa de ser absurda esta busca de um amigo que desapareceu, sombra que pertence a um passado também ele conjectural, numa Índia que se conhece quase só através de quartos de hotel, de hospitais, de estações de caminho-de-ferro. Uma Índia que todavia transparece em conversas com poetas nómadas, Jesuítas portugueses, prostitutas de bombaím, uma reporter que fotografa a miséria de Calcutá. Mas este misterioso ballet de sombras é sobretudo um hino às faculdades criativas da linguagem, pois é graças a uma palavra evocada em várias línguas que o viajante se aproxima daquele que procura. É graças à escrita que esta viagem se transforma em livro, passa de insónia ao sonho ...)







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