sexta-feira, 31 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009

fotografia por Elsa Mota Gomes
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Dormir um pouco — um minuto,
um século. Acordar
na crista
duma onda, ser
o lastro de espuma
que há no sono
das algas. Ou
ser apenas
a maré, que sempre
volta
para dizer: eu não morri, eu sou
a borboleta
do vento, a flor
incandescente destas águas.
Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"
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Dormir um pouco — um minuto,
um século. Acordar
na crista
duma onda, ser
o lastro de espuma
que há no sono
das algas. Ou
ser apenas
a maré, que sempre
volta
para dizer: eu não morri, eu sou
a borboleta
do vento, a flor
incandescente destas águas.
Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"
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sábado, 25 de julho de 2009
Leve como um roçar de asa
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johann sebastian bach - maria callas - ave maria.
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johann sebastian bach - maria callas - ave maria.
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Vaga, no azul amplo solta

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Fotografia de Paulo Cesar[ www.paulocesar.eu ]
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Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.
E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.
Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Al di là delle Nuvole

___________________________________a busca pela essência humana, a arte como forma de viver, a consciência de um olhar ...
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Direção:
Michelangelo Antonioni, Wim Wenders
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Direção:
Michelangelo Antonioni, Wim Wenders
Título Original:
Al di là delle Nuvole
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segunda-feira, 20 de julho de 2009
Tempo de férias ____________________________


Fotografias http://www.cliffordross.com/
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O início de férias, é sempre um turbilhão. Uma agitação interior _____________________
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O início de férias, é sempre um turbilhão. Uma agitação interior _____________________
____________________________________ um des.propósito
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O meu filho António, antes de andar já falava. Era um menino estranho, pensativo ...
Numa noite de brilhos, apontando para a lua disse _________ " bola, luz !". A avó, uma professora experiente, iluminada pela mesma lua, suspirou ____________________ "este menino vai ser poeta".
E_________ é ! Estranhamente, à sua maneira, ____________________________________ é. Na altura não entendi. Hoje veio-me à ideia, assolou-me como uma imensa onda prata e luz. Uma onda fria, metálica, que irrompe do nada. E vai ___________________________ e vem __________________Não entendo.
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Já passaram tantas luas ... ______________________________________________________________________________
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(Tempo de férias. Tempo para pescar memórias no mar da tranquilidade ________________ no fundo.)
sexta-feira, 17 de julho de 2009

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“iluminar o obscuro, humanizar o mundo, aceder à dignidade da humanitas”
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“iluminar o obscuro, humanizar o mundo, aceder à dignidade da humanitas”
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in "Senso comum e modernidade em Hannah Arendt", de Anne-Marie Rovielloe
in "Senso comum e modernidade em Hannah Arendt", de Anne-Marie Rovielloe
terça-feira, 14 de julho de 2009
A Perfeição

imagem http://www.saudek.com
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O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição
Clarice Lispector
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição
Clarice Lispector
segunda-feira, 13 de julho de 2009
sábado, 11 de julho de 2009
voa voa _________________
Estranho país: os rios não levam rios, levam leito. Os rios não correm, estão secos. Os rios não se atravessam, caminham-se. Os rios não têm fundo, afogam-se mesmo à superfície (...)
Pedro Mendes, em " O turismo sustentável como factor de desenvolvimento das pequenas economias insulares - o caso de Cabo verde ", Eduardo Sarmento Ferreira, Lisboa, 2008, Edições Universitárias Lusófonas.
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quinta-feira, 9 de julho de 2009
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Aqui “Destino di Bai” – Poesia Inédita
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Sobre o movimento literário "Claridade" e a defesa do Crioulo
A revista literária Claridade, surgida em 1936 na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, está no centro de um movimento de emancipação cultural, social e política da sociedade cabo-verdiana. Os seus responsáveis foram Manuel Lopes, Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa, a que, dada a excepcional qualidade logo alcançada se juntaram outros.
Os fundamentos do movimento Claridade, como um movimento de emancipação cultural e política cabo-verdiana, podem encontrar-se na nova burguesia liberal do século XIX, que instituiu a Escola como elemento homogeneizador da diversidade étnica das ilhas de Cabo Verde, no pressuposto de que o processo de alfabetização e formação intelectual da população era indispensável ao desenvolvimento de uma consciência geral esclarecida.
A Escola até então em Cabo Verde havia sido eminentemente eclesiástica, pelo que o aparecimento da escola laica desencadeou uma fome de leitura e instrução que está na base do extraordinário desenvolvimento cultural de Cabo Verde nos inícios do século XX face aos territórios semelhantes.
A criação do liceu-seminário, eclesiásticos e laico, da Ribeira Brava e, depois, os liceus da Praia e do Mindelo, para além de formarem os quadros dirigentes da administração crioula, constituíram os cadinhos de onde saíram sucessivas gerações de intelectuais que estão na origem da consciencialização e da reacção contra a mão forte do processo colonialista.
A poesia romântica cabo-verdiana havia-se sido eminentemente poética e pouco política, ou seja a poesia tinha-se debruçado especialmente sobre as emoções e as afectividades, como no caso das Mornas de Eugénio Tavares, mas pouco sobre a situação social.
Embora houvesse já uma certa carga política e, inclusivamente, Eugénio de Paula Tavares tivesse sido criado pela filha de um poeta madeirense emigrado em Cabo Verde por motivos políticos, escrevendo Eugénio poesia em crioulo e, nos artigos de New Bedford, pugnado pela autonomia de Cabo Verde, que pensava que ia chegar com a implantação da República, era ainda, e também, uma atitude romântica, como se comprovou com a implantação do Estado Novo, que desenvolveu a escolaridade, mas não autorizava qualquer discussão política.
Foi nesse sentido que nasceu a revista Claridade, que entre 1936 e 1960 produziu nove números, mas que se tornaram uma referência para toda a cultura caboverdiana. Do ponto de vista literário, a Claridade marca o início de uma fase de contemporaneidade estética e linguística, superando o conflito entre o Romantismo de matriz dominante durante o século XIX, e o novo Realismo, atento às realidades do quotidiano do povo e procurando reflectir a consciência colectiva do povo caboverdiana. Vai ser assim o palco privilegiado para a apresentação do crioulo caboverdiano, que sai de uma certa clandestinidade e menoridade artística, passando a espelhar verdadeiramente um sentir universalista e independente de um povo.
Aqui “Destino di Bai” – Poesia Inédita
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Sobre o movimento literário "Claridade" e a defesa do Crioulo
A revista literária Claridade, surgida em 1936 na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, está no centro de um movimento de emancipação cultural, social e política da sociedade cabo-verdiana. Os seus responsáveis foram Manuel Lopes, Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa, a que, dada a excepcional qualidade logo alcançada se juntaram outros.
Os fundamentos do movimento Claridade, como um movimento de emancipação cultural e política cabo-verdiana, podem encontrar-se na nova burguesia liberal do século XIX, que instituiu a Escola como elemento homogeneizador da diversidade étnica das ilhas de Cabo Verde, no pressuposto de que o processo de alfabetização e formação intelectual da população era indispensável ao desenvolvimento de uma consciência geral esclarecida.
A Escola até então em Cabo Verde havia sido eminentemente eclesiástica, pelo que o aparecimento da escola laica desencadeou uma fome de leitura e instrução que está na base do extraordinário desenvolvimento cultural de Cabo Verde nos inícios do século XX face aos territórios semelhantes.
A criação do liceu-seminário, eclesiásticos e laico, da Ribeira Brava e, depois, os liceus da Praia e do Mindelo, para além de formarem os quadros dirigentes da administração crioula, constituíram os cadinhos de onde saíram sucessivas gerações de intelectuais que estão na origem da consciencialização e da reacção contra a mão forte do processo colonialista.
A poesia romântica cabo-verdiana havia-se sido eminentemente poética e pouco política, ou seja a poesia tinha-se debruçado especialmente sobre as emoções e as afectividades, como no caso das Mornas de Eugénio Tavares, mas pouco sobre a situação social.
Embora houvesse já uma certa carga política e, inclusivamente, Eugénio de Paula Tavares tivesse sido criado pela filha de um poeta madeirense emigrado em Cabo Verde por motivos políticos, escrevendo Eugénio poesia em crioulo e, nos artigos de New Bedford, pugnado pela autonomia de Cabo Verde, que pensava que ia chegar com a implantação da República, era ainda, e também, uma atitude romântica, como se comprovou com a implantação do Estado Novo, que desenvolveu a escolaridade, mas não autorizava qualquer discussão política.
Foi nesse sentido que nasceu a revista Claridade, que entre 1936 e 1960 produziu nove números, mas que se tornaram uma referência para toda a cultura caboverdiana. Do ponto de vista literário, a Claridade marca o início de uma fase de contemporaneidade estética e linguística, superando o conflito entre o Romantismo de matriz dominante durante o século XIX, e o novo Realismo, atento às realidades do quotidiano do povo e procurando reflectir a consciência colectiva do povo caboverdiana. Vai ser assim o palco privilegiado para a apresentação do crioulo caboverdiano, que sai de uma certa clandestinidade e menoridade artística, passando a espelhar verdadeiramente um sentir universalista e independente de um povo.
As referências da Claridade apontam assim muito mais para uma universalidade que para o curto e autista universo português de então.
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quarta-feira, 8 de julho de 2009
"Amar a Mãe-Terra e a Mãe-água com toda a força e pureza do Amor, compreendê-las como o menino compreende a linguagem da mãe e a canção de embalar e a profunda significação do embalo daqueles braços, e neles aprende a conhecer a segurança e a protecção contra as ameaças desconhecidas."
in "Chuva Braba" de Manuel Lopes
in "Chuva Braba" de Manuel Lopes
sábado, 4 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Rosalinda se tu fores à praia, se tu fores ver o mar ...

http://www.asemana.publ.cv/
“Hoje não é um dia igual aos outros. É um dia grande para Cabo Verde, para o mundo e para quem está lá fora”, comenta emocionada D. Rosalinda. Hoje, a guardiã da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, faz parte do Comité de Gestão do Património – que une governo, autarquia e cidadãos. Para ela, ainda é preciso muita sensibilização para fazer com que as pessoas entendam, e entranhem no espírito, a importância de ser Património Mundial da Humanidade.
in Nova era para a Cidade Velha por Catarina Abreu
A Cidade Velha de Cabo Verde é, a partir de 26 de Junho de 2009, Património Mundial da Humanidade. O reconhecimento pela UNESCO é o culminar de um projecto iniciado há 10 anos. A Cidade Velha de Santiago em Cabo Verde, berço da Pátria crioula, que nasceu e se desenvolveu por conta do tráfico negreiro, vulgo comércio de escravos, foi descoberta pelos portugueses em 1460 que aí construíram a primeira cidade do mundo nos trópicos, tendo sido capital do arquipélago até 1770. Que as pessoas que aqui moram, que habitam este lugar e pisam este chão, consigam exorcizar, em cada acto de liberdade, os tristes lamentos que ecoam da História. Que esta distinção lhes traga (nos traga) mais felicidade. Que seja alavanca de desenvolvimento e prosperidade, que se cumpra plenamente a marca "Património da Humanidade". Em espírito. Em festa.
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Decisão tomada por unanimidade, em Sevilha (Espanha), na 33ª sessão do Comité do Património Mundial, presidido por María Jesús San Segundo. A Ribeira Grande - redenominada Cidade Velha no final do séc. XVIII - foi a primeira cidade colonial construida por europeus (portugueses) abaixo dos trópicos, no séc. XV. A declaração (versão preliminar) da Cidade Velha-Ribeira Grande de Santiago a Património Mundial, de 2007, pode ser lida aqui.
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Ouvir Silencio - Bau
quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.
O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.
Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
– quem toma uma por outra
confunde e mente.
Affonso Romano de Sant'Anna
http://www.affonsoromano.com.br/
quarta-feira, 24 de junho de 2009

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A arte opta sempre pelo individual, o concreto; a arte não é platónica
A arte opta sempre pelo individual, o concreto; a arte não é platónica
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Jorge Luis Borges
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Ouvir sum sabia - Herminia Ft. Morgadinho
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Entreposto humano?

"Nesta “coisa” das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, uma das “maravilhas” a concurso era a Cidade Velha de Santiago em Cabo Verde, cidade que «nasceu e desenvolveu-se por conta do tráfico negreiro», vulgo comércio de escravos. Há bocado ouvi na RTP1 uma menina referir a Cidade Velha de Santiago como “importante entreposto humano”. Assim mesmo. E assim vai a História de Portugal e assim vai a nossa relação com a nossa História."
Disse João Branco AQUI
Blogs a seguir ...
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Sugestão de João Branco, DIRECTOR ARTÍSTICO do Centro Cultural Português - ICA / Pólo do Mindelo – Cabo Verde
Presidente da Direcção da Associação Artística e Cultural Mindelact. Actor e encenador
Um fidje de Sanvcênte
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Quem mi ê? Um fidje de Sanvcênte.
Nascide, crióde, lá na ponta d' Praia.
Lá ondê que mar tâ sparajá debóxe de bôte,
moda barra dum saia.
Cs' ê que m' crê? Cantá nha terra!
Companhal na sê dor;
na nôbréza d' sê alma;
na pobréza d' sê vida!
Nascide, crióde, lá na ponta d' Praia.
Lá ondê que mar tâ sparajá debóxe de bôte,
moda barra dum saia.
Cs' ê que m' crê? Cantá nha terra!
Companhal na sê dor;
na nôbréza d' sê alma;
na pobréza d' sê vida!
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Sérgio Frusoni

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A crioula que meus olhos beijaram a medo
perdeu-se na confusão de um porto francês
Ela sorria continuamente, erguendo no seu riso uma canção extraordinária.
Não foi um romance de amor
nem mesmo um pequeno segredo entre ambos.
Somente, quando Ela falava ao pé de mim, eu sentia:
um aprazível devaneio
pela maravilha escultural duma Mulher Perfeita.
Depois,
a Vida separando Nós - Dois
a confusão, os ruídos, os braços agitando-se
e o vapor levando para outros mares,
outros portos,
a graça, o mistério, o perfume e os cantares
da crioula que meus olhos beijaram a medo
no tombadilho daquele vapor francês.
"Vida", Luís Romano, 1963
perdeu-se na confusão de um porto francês
Ela sorria continuamente, erguendo no seu riso uma canção extraordinária.
Não foi um romance de amor
nem mesmo um pequeno segredo entre ambos.
Somente, quando Ela falava ao pé de mim, eu sentia:
um aprazível devaneio
pela maravilha escultural duma Mulher Perfeita.
Depois,
a Vida separando Nós - Dois
a confusão, os ruídos, os braços agitando-se
e o vapor levando para outros mares,
outros portos,
a graça, o mistério, o perfume e os cantares
da crioula que meus olhos beijaram a medo
no tombadilho daquele vapor francês.
"Vida", Luís Romano, 1963
quinta-feira, 18 de junho de 2009
terça-feira, 16 de junho de 2009
Laboratório das memórias
( ... )

A antiga " Foto Melo ", é um mundo de emoções e recordações. Não há viva alma no Mindelo que não tenha um retrato feito por Papim ou pelo pai, D`Jin D`Jon
Milhares e milhares de imagens fotográficas, que numa primeira estimativa podem ascender a mais de cem mil, representam as famílias e os quotidianos mindelenses em expressivos retratos de época, captadas por duas gerações de fotógrafos caboverdianos – João Melo (D`Jin D`Jon) o fundador da Foto Melo na ultima década de séc XIX e mais recente, Eduardo Melo ( Papim) homem de riso aberto, coração bom, amante do belo e da natureza, dotado de luz e de um imenso sentido de humor que ainda hoje adocica a memória de quem a ele se refere. Espalhou sodade, admiração e paixões.
O acervo é propriedade da família e ela cabe decidir o futuro deste património.
São cinco, ao todo, os filhos do Papim e, alguns, seguindo a tradição da família e de muitas outras famílias cabo-verdianas, que no princípio do séc XX, embarcaram no "Ernestina" rumo à América, alguns destes também assentaram arraiais na Califórnia e por lá ficaram. Segundo relatos de familiares próximos, os filhos de Papim são grandes admiradores do pai, apreciam-lhe o carácter e o génio, mas nenhum seguiu a profissão. Assim quando, há cerca de dez anos, desapareceu o fotógrafo o "assunto" ficou arrumado; adormecido em caixas de papelão num canto da casa de José Melo, um dos muitos sobrinhos do Papim, dirigente da "Biosfera", prestigiada associação ambiental de Cabo Verde.
Estas imagens mais do que simples fotografias (do que simples chapas), constituem um valioso património documental profundamente enraizado nas memórias e nos afectos das famílias de S. Vicente.
Num primeiro levantamento, foram identificados vários processos fotográficos: negativos em suporte de vidro e em película, tais como os negativos em nitrato e acetato de celulose a preto e branco e alguns escassos cromogéneos, acondicionados em envelopes "fabricados" pelos autores, reaproveitando cartas, facturas, cadernos de escola, folhas de revistas e jornais, e outros papéis e papelinhos, de toda a natureza e feitio que, só por si, constituem uma rara (e absolutamente inesperada) iconografia associada, que só o improviso tornou possível. Também foram identificadas provas impressas em papel de revelação, algumas das quais montadas em álbuns fotográficos, representando vistas panorâmicas da ilha de S. Vicente, eventos sociais, procissões, festas, bailes, barcos, viagens de família, entre outros assuntos. A amostra até agora trabalhada, revelou-nos que a larga maioria das imagens são retratos de pessoas e/ou grupos em atitude de pose, tendo como fundo um telão, com uma vista da baía do Mindelo, pintado numa parede do antigo estúdio da Foto Melo. São imagens cuidadosamente encenadas, ao estilo e gosto da época. Por tudo isto a Foto Melo está na vida da grande maioria das famílias de S. Vicente, que descrevem ao minímo detalhe o instante fotografado e as sensações experimentadas.
Nesta primeira fase, a equipa técnica improvisou no Mindelo, em casa particular, um laboratório para observação dos espécimes fotográficos, preocupando-se em recolher dados para execução de um relatório técnico, que dará conta do estado da colecção e remeterá para um plano de tratamento, conservação, estudo e comunicação (acessibilidade das imagens, produtos relacionados, exposições, etc.), a entregar a todas as partes envolvidas, com natural primazia para a família Melo, proprietária do acervo, que despoletou este processo de observação e pesquisa. Foram também tomadas medidas de emergência que visaram minimizar os factores de deterioração em que se encontrava esta colecção, que passaram pela sua transferência para uma outra casa da família Melo, na cidade do Mindelo, que reúne melhores condições ambientais e de segurança. Esta solução de emergência responde, no momento, a uma necessidade imediata de preservação mas é obviamente provisória até que se encontre, com o acordo das partes, o espaço adequado à sua conservação, estudo e musealização (*), tornando-o acessível a todos os mindelenses e a quem os visita. O imenso acervo da antiga "Foto Melo" é um património de inegável valor identitário e de memória para São Vicente, um património histórico e estratégico de Cabo Verde e um inesgotável laboratório para o estudo da arte fotográfica e da imagem como produto de uma técnica e signo de cultura, relevante em qualquer parte do mundo. É um património artístico que, devidamente conservado e musealizado , poderá contribuir para criar postos de trabalho, emprego qualificado na área da cultura e do património, mais conhecimento sobre a História e as pessoas de Cabo Verde. A exemplo de outros arquivos do género, as edições de produtos associados, poderão contribuir para garantir a sustentabilidade e reverter para o estudo e conservação do acervo, prestando serviços úteis à comunidade que garantam a satisfação das pessoas e a operacionalidade social deste raríssimo bem cultural. A "Foto Melo" foi uma casa de prestígio e poderá continuar a ser, uma marca de qualidade para São Vicente. Estes acervos (e existem vários, ligados à fotografia e ao cinema em Cabo Verde) são espelhos da sociedade mindelense que se fundem num caleidoscópio de espantos e ilusões, profundamente inspirador.
Estas imagens mais do que simples fotografias (do que simples chapas), constituem um valioso património documental profundamente enraizado nas memórias e nos afectos das famílias de S. Vicente.
Num primeiro levantamento, foram identificados vários processos fotográficos: negativos em suporte de vidro e em película, tais como os negativos em nitrato e acetato de celulose a preto e branco e alguns escassos cromogéneos, acondicionados em envelopes "fabricados" pelos autores, reaproveitando cartas, facturas, cadernos de escola, folhas de revistas e jornais, e outros papéis e papelinhos, de toda a natureza e feitio que, só por si, constituem uma rara (e absolutamente inesperada) iconografia associada, que só o improviso tornou possível. Também foram identificadas provas impressas em papel de revelação, algumas das quais montadas em álbuns fotográficos, representando vistas panorâmicas da ilha de S. Vicente, eventos sociais, procissões, festas, bailes, barcos, viagens de família, entre outros assuntos. A amostra até agora trabalhada, revelou-nos que a larga maioria das imagens são retratos de pessoas e/ou grupos em atitude de pose, tendo como fundo um telão, com uma vista da baía do Mindelo, pintado numa parede do antigo estúdio da Foto Melo. São imagens cuidadosamente encenadas, ao estilo e gosto da época. Por tudo isto a Foto Melo está na vida da grande maioria das famílias de S. Vicente, que descrevem ao minímo detalhe o instante fotografado e as sensações experimentadas.
Nesta primeira fase, a equipa técnica improvisou no Mindelo, em casa particular, um laboratório para observação dos espécimes fotográficos, preocupando-se em recolher dados para execução de um relatório técnico, que dará conta do estado da colecção e remeterá para um plano de tratamento, conservação, estudo e comunicação (acessibilidade das imagens, produtos relacionados, exposições, etc.), a entregar a todas as partes envolvidas, com natural primazia para a família Melo, proprietária do acervo, que despoletou este processo de observação e pesquisa. Foram também tomadas medidas de emergência que visaram minimizar os factores de deterioração em que se encontrava esta colecção, que passaram pela sua transferência para uma outra casa da família Melo, na cidade do Mindelo, que reúne melhores condições ambientais e de segurança. Esta solução de emergência responde, no momento, a uma necessidade imediata de preservação mas é obviamente provisória até que se encontre, com o acordo das partes, o espaço adequado à sua conservação, estudo e musealização (*), tornando-o acessível a todos os mindelenses e a quem os visita. O imenso acervo da antiga "Foto Melo" é um património de inegável valor identitário e de memória para São Vicente, um património histórico e estratégico de Cabo Verde e um inesgotável laboratório para o estudo da arte fotográfica e da imagem como produto de uma técnica e signo de cultura, relevante em qualquer parte do mundo. É um património artístico que, devidamente conservado e musealizado , poderá contribuir para criar postos de trabalho, emprego qualificado na área da cultura e do património, mais conhecimento sobre a História e as pessoas de Cabo Verde. A exemplo de outros arquivos do género, as edições de produtos associados, poderão contribuir para garantir a sustentabilidade e reverter para o estudo e conservação do acervo, prestando serviços úteis à comunidade que garantam a satisfação das pessoas e a operacionalidade social deste raríssimo bem cultural. A "Foto Melo" foi uma casa de prestígio e poderá continuar a ser, uma marca de qualidade para São Vicente. Estes acervos (e existem vários, ligados à fotografia e ao cinema em Cabo Verde) são espelhos da sociedade mindelense que se fundem num caleidoscópio de espantos e ilusões, profundamente inspirador.
Agradecimentos especiais a Lígia Leite, bibliotecária da Biblioteca Municipal do Mindelo, Josina Freitas, directora do CCM - Centro Cultural do Mindelo, Daniel Brito e Antónia Mosso, proprietários da Livraria Semente e Tiago Peixoto, biólogo e investigador na área da Ecologia Marinha (que nos deu casa e companhia na rua da Praia). A todos obrigada pela amizade, pela colaboração e pelo excelente acolhimento.
Mindelo, 16 de Junho de 2009
Isabel Victor e Bruno Ferro
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(*) Missão criada no âmbito do Centro de Estudos de Sociomuseologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa em cooperação da Câmara Municipal de Setúbal/Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro/ Divisão de Museus
quarta-feira, 10 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Ao sol das conversas
Centro Cultural do Mindelo
Encenação de João Branco

43ª Produção Teatral do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo: "No Inferno"
Uma tragicomédia de Arménio Vieira
Uma tragicomédia de Arménio Vieira
“imaginei uma personagem enclausurada, anónima e sem memória. (...) Compelido a libertar-se pela escrita, ele tentou-o, mas com sofrível sucesso em razão de uma sobrecarga mental de informações livrescas. A falta de uma real vocação de escritor, - o poeta nasce, costuma dizer-se. Será, talvez, a explicação mais justa”.
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[...] O tigre ignora a liberdade do salto,
é como se uma mola o compelisse a pular
Entre o cio e a cópula,
o tigre não ama.
Ele busca a fêmea
como quem procura comida.
Sem tempo na alma,
é no presente que o tigre existe.
Nenhuma voz lhe fala da morte.
O tigre, já velho, dorme e passa.
"Ser Tigre" Arménio Vieira
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o culto cultivado

Antonio Pedro
Arménio Vieira
Corsino Fortes
Daniel Filipe
Gabriel Mariano
Luís Romano
Manuel Lopes
Mário Fonseca
Onésimo Silveira
Oswaldo Alcântara
Oswaldo Osório
Teobaldo Virginio
Terêncio Anahory
A rádio no Museu de Arte tradicional
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