sábado, 25 de julho de 2009

Vaga, no azul amplo solta


________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________



__________________________________________________





Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.


O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.


E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.


Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.


Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.





Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores

Povo que canta não pode morrer...

Arquivo do blogue

Pesquisar neste blogue