quinta-feira, 6 de setembro de 2007


Imaginam que os pais de uma criança desaparecida possam sentir grande disposição para dar entrevistas semanais à imprensa cor-de-rosa, posando sentados em sofás caros, e no chão, sobre almofadas, lendo as inúmeras cartas de apoio recebidas e espalhadas pela carpete?! Embora me esforce por me sentir na pele dos outros - é um exercício que realizo para conseguir situar-me imparcialmente face às situações - nunca imaginaria tal coisa. O meu horizonte emocional não o permitiria. Nunca vi pais de crianças portuguesas desaparecidas aparecerem senão em notícias de jornal, reclamando sobre a impotência dos meios disponibilizados para investigar os respectivos casos.No entanto, na última semana deparei-me com três ou quatro capas da Lux, Gente, Caras, etc. alimentadas pela imagem dos pais de Maddie, ampliando a brutal campanha de marqueting pessoal que têm levado a cabo nestes meses. A vida dos pais de uma criança desaparecida tornou-se uma notícia de sociedade. Um caso muito negro enche páginas cor-de-rosa. Os pais da criança são igualmente cor-de-rosa: médicos lourinhos, branquinhos, magros e bem relacionados. Não gostamos deles, pois não. Como poderíamos?! Não está em causa se têm alguma culpa no caso. Isso transcende-me. Supreeender-me-ia bastante que os pais de uma criança aparentemente tão desejada, a ponto de ser concebida com recurso à procriação medicamente assistida, pudessem de alguma forma estar envolvidos em cenários tão macabros como os que os comentadores, e alguns jornais, sugerem. Os pais de Maddie poderão estar inocentes como anjos. Mas, na nossa cultura, os pais desesperados não têm assessores de imprensa que 'mandam dizer' aos jornalistas. Que decidem pronunciar-se, ou não, conforme estes se portam bem ou mal, ou seja, conforme lhes são mais ou menos favoráveis. Se calhar sou eu que sou antiquada, mas na nossa cultura os pais desesperados não se passeiam em carros de luxo nem acedem a vivendas a estrear, emprestadas. Na nossa cultura os pais desesperados não são recebidos pelo responsável do quartel-general das investigações sobre desaparecimentos, nos EUA. Nem pelo papa. Não fazem tours pelo mundo, como se fossem embaixadores da UNICEF. Na nossa cultura, os pais desesperados desesperam, e os de Maddie parecem-nos tão calmos e conformados com a demora nas investigações. Imagino que seja efeito dos calmantes com que se automedicam. Sinceramente, espero que tanta serenidade seja trabalho do Xanax e do Sedoxil. Isso poderia compreender. Quanto ao resto, gostaria que o peluche de Maddie que a mãe transporta para todo o lado, nas mãos, pudesse falar. E fala, não fala? Parece-me que fala.
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(copiei este texto, certinho e direitinho, para as folhas do caderno porque, várias vezes, pensei escrever exactamente isto e nunca o fiz. Em conversas informais manifestei a minha incompreensão relativamente à performance deste casal. Subscrevo inteiramente o sentimento aqui enunciado pela Isabela. Como não conseguiria fazer melhor ... copiei !)

Publicado por Isabela em Quarta-feira, Setembro 05, 2007
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Foto: Luís Forra/Lusa

13 comentários:

  1. Acho que é uma estória ainda mal contada.
    Lamento que os peluches das nossas crianças desaparecidas não tivessem "aparecido" nos órgãos de comunicação social, na época do seu desaparecimento.
    Sei que no Reino Unido é frequente darem "ligeiros calmantes" a crianças mais irrequietas para dormirem melhor.....

    Um beijo

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  2. É muito estranho tudo isto, para mim que sou portuguesa...

    Iremos saber o que na verdade se passou naquele apartamento? Já duvido, sinceramente.

    Um beijo

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  3. Isabel, palavra por palavra este texto tem estado dentro da minha cabeça, só que nunca o poderia exprimir tão bem.
    É tudo o que penso, a transcrição é de aplaudir. E a autoria, essa é de aplaudir duplamente.
    Não é efectivamente da culpa ou não culpa que se trata - isso é para a justiça - é do que sentimos. Nós, as pessoas, pelo menos os portugueses.

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  4. É uma afronta para os anónimos pais de outras crianças desaparecidas, que não têm dinheiro para fazer marketing da desgraça, nem são entrevistados pelos media.

    E vamos ver o fim da história...

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  5. isto é tudo mais complexo do que parece, ou muito simples se quisermos deter-nos em duas ou três coisas, sem corrermos o risco de nos perdermos.
    1 - só ouvi uma vez relatarem num noticiário ( e inexplicávelmente não repetida) uma nota que dava conta duma vizinha do casal ter dado conta nessa noite da mãe da maddie gritar para o pai: "nós falhámos!" (em inglês, claro).
    que vizinha ia inventar tais palavras se nem se sabia ainda do desaparecimento da criança.
    2 - as facilidades que este casal teve para obter tudo o que quis de ambos os países (e de outros) não é por pena da criança, que lá, como cá, desaparecem amiúde...o Moita Flores tem explanado bem o assunto.
    3 - sabem como é fácil desaparecer de portugal se, de repente, se é acusado? não é como em inglaterra...
    ou pensam que estão cá porque são masoquistas e gostam de levar em cima pelos média como nos últimos tempos?
    3 - quem for mãe que me responda: nos dias seguintes a um acontecimento destes tinham coragem de sair à rua, normalmente vestidinhas, penteadinhas e tal?
    (mesmo que medicados como eles sabem medicar-se. e até isso: medicados a ponto de não sentirem não os faria ter aquele aspecto tão clean)

    nunca acreditarei que assassinaram a criança premeditamente. mas que o fizeram por negligência não tenho dúvidas. seja qual for o desfecho do caso. porque quem leva 1 mês para mandar "alguns" resultados de análises que, no máximo, levariam 2 semanas a estar concluídas...pode engendrar seja que desfecho seja. ou outra instituição das que sabemos e que tratam este casal por tu...

    finalmente, dizer que se o caso estivesse entregue à judiciária portuguesa já estaria resolvido...como o de joana. havia vestígios nas paredes, não havia? num caso como noutro. só que neste caso a nossa polícia não manda nada, nem nunca mandará (e ainda é gozada). vamos apostar?


    pronto. eu nem digo mais nada...

    um beijo

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. O peluche já não se vê nas mãos de Kate McCann... Será que fugiu para dizer a verdade?...

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  8. Os fins justificam os meios
    e quem os tem que os use.
    São culturas diferentes em que às vezes até o profissionalismo voluntário choca.
    (vamos ver o fim da história, espero que feliz, mas tenho as minhas dúvidas)

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  9. Também já pensei desta forma, Isabel, mas depois, o meu lado mais jornalistico, pergunta: «Se eles mataram a menina, porque razão deixaram empolar tanto o caso, na comunicação social, pressionando a polícia judiciária, ao ponto desta ter de chegar à verdade, mais tarde ou mais cedo?»

    Penso que seria mais cómodo para estes pais (caso tivessem morto a filha, mesmo por acidente), manterem-se mais distantes do caso, e até terem partido, pouco tempo depois, para Inglaterra.

    Também acho muito esquisito, só passados todos estes meses, a policia ter alimentado a tese de assassinato. Os pais (ou outros assassinos) foram assim tão perfeitos, ao ponto de não deixar qualquer pista, para a policia cientifica?

    É tudo demasiado complexo, para ter uma opinião pessoal sobre o assunto.

    Tenho dificuldades em acusar os pais por se tratar de algo demasiado grotesco. Mas se ocultaram o crime, mesmo que se tenha tratado de um acidente, estão ao nível de qualquer assassino e não devem ser desculpados nem poupados. Devem ser punidos com uma pena exemplar, por terem alimentado toda esta farsa, durante todo este tempo.

    Mas continuo com muitas reticências, se terão sido eles os assassinos, mesmo por negligência ou acidente.

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  10. há coisas que não sabemos ou nem queremos pensar nisso porque são deveras incomodativas.............


    gosto deste teu blog, apsesar de que oscomentarios ficarem sempre comigo........:)

    gosto de estar aqui

    jocas maradas....sempre

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  11. Gostei de ler a opinião que transcreveste sobre o assunto. É bem verdade que as operações de marketing, hoje em dia, invadem todo o tipo de fenómenos. Desde que exista dinheiro para as implementar, é claro. Por outro lado, penso que há casos que deveriam ser alheios a este tipo de operações, mantendo-se salvaguardados de estratégias como as que temos observado, neste caso.
    Todos os meios deveriam ser orientados para a busca da razão do desaparecimento da miúda e não para acompanhar a vida dos pais, daqui a nada como se se tratasse da família real ou algo do estilo.
    As pessoas deveriam ser informadas sobre o curso dos acontecimentos mas não alimentando o espírito telenovelesco.
    Por outro lado, a verdade é que me faz espécie a descontracção destes pais. Mas pode ser devido a questões culturais. Não sei o que se passou, é certo, mas sei que aparentam um ar de enorme frieza. Faz confusão a gente de sangue mais latino, como eu. :)
    De qualquer modo, não tenho grandes esperanças de solução do caso. Lamento pela menina, tão inocente e frágil. Tal como lamento por todas as outras crianças desaparecidas e esquecidas.

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  12. A mim irrita-me ser mau e ter sempre razão mas acabo por ficar contente no final... Afinal sempre era demasiado "enbandaramento" não era?

    Ai ai, santa sapiência...

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  13. Em relação a dúvidas eu, a esta altura do campeonato já tenho muito poucas.

    A coisa começou a cheirar-me muito mal, há já alguns meses quando soube que estava a ser criado um fundo para a procura de Maddie a ser gerido pelos pais. Aumentou ainda quando vi o dito casal a viajar e a deixar os gémeos co outras pessoas. Se o caso acontecesse comigo eu nem com a minha própria mãe os largava...

    Depois, quem tiver um pouquinho de noção de psicologia e estiver treinado a observar expressões faciais, consegue constatar que desde o início em Kate nunca se viu um vislumbre de esperança, de espectativa. Só a expressão fechada da dor e da culpa.

    A encenação deve-se ao medo de serem indiciados. Então o rapto serve como cortina de fumo. Os amigos podem ser, como me parece que sejam, pelo menos alguns, cúmplices, no sentido de ajudarem a ocultar indícios...isto são apenas conjecturas...

    Mas a frieza de Kate tem algo de personalidade anti-social.

    A encenação é típica de uma inteligência acima da média que tem o hábito de arquitectar planos, mentalidade de aranha.

    Kate é uma mulher que todos os dias se coloca diante do espelho para se pentear e colocar a fitinha no cabelo.Para depilar as sobrancelhas.para cuidar da imagem. posa para a fotografia para colocar um ar falsamente sofrido. quem obeservar as expressões de psoicopatas ou abusadores de crianças quando se fazem de inocentes encontra várias semelhanças. para mim, não há equívoco.
    pena é que já tenha passado tempo suficiente para eliminarem provas e até quem sabe colocar o corpo num forno crematório...

    Com a ajuda de alguém, é claro...


    CSD

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