domingo, 9 de setembro de 2007


Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo
aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
– já me aconteceu antes.

Pois sei que
– em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade –
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

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A lucidez perigosa
Clarice Lispector


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12 comentários:

  1. bom dia Lucidez....

    bendita.


    a dita.
    que tanto nos falta. mas ilumina.
    quando chega.
    bom dia Ternura.

    beijo.

    imf.

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  2. lindissimo este teu post!

    absolutamente.



    beijo I.

    B.

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  3. Excelente post.

    Boa noite, Isabel
    Um beijo

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  4. Muito bonito, mesmo! :)
    Tenho grande admiração pela escrita da Clarice Lispector. Este poema não é só bonito. É de uma imensa profundidade.
    A lucidez...tão boa e tão assustadora, às vezes...
    Mas nunca a vida é a "vida", sem ela.
    Beijinhos, Isabel!

    P.S. - Boa, a inovação do look do blog! :)

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  5. magnífica e dolorosa lucidez.

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  6. Obrigado pela referência à bela coisa que já postei. Abraço índico.

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  7. A Claricezinha fica sempre bem em qualquer pano! Beijinho!

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  8. Um lucidez que dói.

    Magnífica a escrita

    o post

    tu

    beijos

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  9. agora sim!
    aquele blogue em vermelho era mesmo mau! muito mau!
    simões

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  10. Quando esta situação acontece...e é frequente...o melhor é acordar mesmo, e perceber em que mundo estamos, pouco dado a meditação, porque perigosa.

    Perceber quem somos e que fazemos aqui...pode ser um caminho para uma conclusão pouco ou nada simpática.

    Mas...mais vale pensar que ser acéfalo.

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  11. A lucidez nem sempre é a melhor companheira...

    A Clarice é uma jóia...

    gosto destas tuas variações no "Caderno".

    Abraço

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  12. boa noite.....

    d i v i n a.







    .piano.

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