Hoje, por instantes, entreguei-me nas mãos da Márcia e perdi a noção do tempo. Como num teatro de marionetas, o corpo quase que desapareceu no escuro e só se viam dedos e mãos iluminadas por um pequeno candeeiro, no canto do salão. Neste cenário, esquecida de mim, viajei até à cidade de Londrina, no Paraná e quase toquei as saudosas infâncias ... do " era uma vez " no Pantanal ... desfiadas nas estórias e memórias de uma mulher de vinte e oito anos, imigrante brasileira, que há nove anos, grávida de esperança, veio para Portugal à procura de melhor vida. Também esteve na Inglaterra, " mas aí ainda foi pior ... não havia sol "
Mas está difícil ... " se calhar vou voltar, vou criar lá os meus filhos ... aqui o dinheiro não chega nem para pagar o infantário ... lá, ao menos, tem creche gratuita e até farmácia do povo e ... estou perto do meu pai e dos meus irmãos", dizia-me ela, com os dedos nos meus dedos, massajando-os maquinalmente ao ritmo da emoção.
Chegou a hora de escolher a cor ... olhei atordoada a paleta e dei-lhe a primazia do acto. Ela escolheu o carmim ... sorri-lhe e saí com a cabeça cheia de sensações, ideias e lugares.
Agora, teclando, olho para estas unhas festivas e ...
estala-(se)-me o verniz !
Lembro-me da Marta, das vaidades, da intimidade do nosso iluminado re.canto, das brincadeiras deliciosamente recreadas no exuberante Pantanal (coisa de pouca dura, porque a Marta começou a " fazer unha " aos onze anos no salão da tia. "Era preciso ... " eram muitos irmãos e ... o pai era amigo dos filhos, "não nos faltava com nada em casa, mas ... tinha muitas amantes, sabe como é ? ... Vivíamos no campo ... mandaram-me para a cidade, trabalhar, era assim ... tinha que ser... e eu gostava ! " )
E a isabel mendes ferreira disse ...
"Marta que é nome das diferenças e das desigualdades....
Marta no caminho ínsulo dos sonhos.
e o verniz sempre carmim a cavalgar o cinzento dos dias."
Já com a Isabel, à mesa de um prometido fim de tarde ... interrogo.me ...
não sei se a Marta se lembrará algum dia do meu nome ou se fui apenas mais "uma unha para fazer" ?
Mais uma unha encravada na vida difícil das Martas e das Marias, de cá e de lá, a sobre.viver na dourada Europa que ... já não é o que era.
Tantos, tantos mitos. Tanto para contar, re.contar ...
e os argumentistas em greve !
pois é....mas se te conhecerem ainda te levam...para re.escreveres o argumento da "atenção às pequenas grandes coisas"...:)
ResponderEliminarMarta que é nome das diferenças e das desigualdades....Marta no caminho ínsulo dos sonhos.
e o verniz sempre carmim a cavalgar o cinzento dos dias.
aí nesse recanto ao canto da mão direita deposito um beijo.
:)
até logo.
«Esta pequena mão, âncora de carne em vida, estas amarras suas veias artérias palpitantes, este peso dum corpo e este calor, não me deixarão partir ainda...» de Luiz Pacheco...
ResponderEliminarbelíssimo!
mãos a serem pontes.
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como as que Marta segura.
bom dia. ainda.
mitos e histórias de um mundo cada vez mais desigual
ResponderEliminare tão esburacado...
a marcha atrás no tempo está a ser rápida demais (vou escrever sobre isto)...
abraço Isabel
Vim desejar um bom e melhores mitos boa semana
ResponderEliminar....mas o chá adiou.se...:) partida a unha do tempo ficou na mesa um ramos de lírios. e uma rosa vermelha. como o vermelho que a Marta tatuou nos teus dedos...reconhecíveis álamos curvados ao vento. quente. de lá.
ResponderEliminaraté logo. lá...
com beijos...
(e pedra de lua).....
imf.
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olha, até que gosto de estar neste Caderno Diário de Campo...:)
Soube da sua visita lá pelas minhas terras. A boa gente do condado vibrou com a presença da garota dos museus, e promete na próxima vez, receber-lhe com uma deliciosa sopa de letrinhas, de uma receita do clã dos Túks. Porém, sabedores da sua cultura luxuosa, não serão letrinhas quaisquer. Já estão preparando a massa com caracteres idênticos ao de uma antiga e misteriosa escrita cuneiforme.
ResponderEliminar* * *
Tocante esse texto, e também revelador da sua alma sensível com referência a esses desencantos humanos.
O Paraná, o estado dessa moça, a Márcia, há uns vinte anos apresentava um dos melhores índices de qualidade vida do Brasil, com um percentual pequeno de pobreza, grau zero de miséria e quase sem analfabetos.
Nos últimos quinze anos, com a implantação no Brasil de um sistema econômico neo-liberal perverso e concentrador de riquezas, a realidade é outra. Por sinal, acredito que esse sistema já contaminou - ao menos pelas bordas, a ex-quase-socialista Europa. Leio a respeito de crises em Portugal, e até mesmo em economias mais poderosas como a da França, a meu ver, caminhando para a falência da sua previdência social e muito mais automóveis incendiados.
É sempre uma satisfação ler e ver as coisas que publica.
À cada saída do seu blog, sinto-me um pouco mais sábio. Beijo-te!
(tb.)
ResponderEliminar****
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmuuuuuuuito.
y.
Sem argumentos_________
ResponderEliminar________ não há_________
vida!
_________Um abraço.
são estes pequenos
ResponderEliminarnadas
quase
comezinhos
feitos
de
gestos
ternos
à
volta
dos
dedos
que
constroem
as
pontes
humanas
( só? )
estou como o Oliver e a I=Y .muito + sábia
um beijo
obrigada, isabel victor.
ResponderEliminar:)