terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sobre literatura portuguesa online. E ... viva o " projecto vercial " !

____________________________________________________

(...)

Começando por Gil Vicente, há uma edição brasileira do Auto da Barca do Inferno nos Google Books e os poemas escritos em castelhano estão publicados em sítios espanhóis. No Projecto Vercial, um projecto privado que colocou mais literatura portuguesa em linha que todas as instituições do Estado juntas, há uns fragmentos dos Autos da Índia e da Barca do Inferno. Existem em linha vídeos com fragmentos de algumas peças de Gil Vicente e, nalguns sítios de poesia e blogues, há partes de peças e alguns poemas.
A maioria das ligações do artigo da Wikipedia sobre Gil Vicente não vai dar a lado nenhum, o que significa que há um retrocesso da representação do autor em linha.

De Fernão Lopes há na Rede três crónicas para download na Biblioteca Nacional (ligações do artigo da Wikipedia) e no Projecto Gutemberg, o que, sendo útil, não é o melhor mecanismo para a "leitura" em linha e apenas o Projecto Vercial publica uma página com partes das Crónicas de D. Pedro, D. Fernando e D. João. E nada mais.
De Fernão Mendes Pinto há textos no sempre presente Projecto Vercial e na Biblioteca Nacional Digital, embora as ligações para esta última edição estejam quebradas na Wikipedia, e não seja fácil descobrir nas páginas a que se acede pelas ligações externas onde estão os textos. Partes da Peregrinação foram publicadas num blogue Carreira da Índia e nada mais ...

Bernardim Ribeiro está no Projecto Vercial e um ou outro poema disperso aparece em sítios de poesia, em particular brasileiros. Mas o texto da Menina e Moça não se encontra acessível e uma edição que existia de um amador americano tinha muitos erros de transcrição e parece ter desaparecido das primeiras procuras.A História Trágico-Marítima tem uns fragmentos no Projecto Vercial e uma edição em PDF na Biblioteca Nacional Digital e nada mais. Junto com a Peregrinação, este é um dos casos mais graves de sub-representação de uma obra identitária de Portugal e dos portugueses com muito pequena presença na Rede.

De Francisco Manuel de Melo há também muito pouca coisa em linha: uma referência às obras na Biblioteca Nacional Digital não funciona e escrevendo o nome do autor na procura não dá resultados. Existem edições académicas em PDF das Epanáforas de Varia História Portuguesa e da Carta de Guia de Casados e alguns poemas dispersos em sítios de poesia.

Dos grandes prosadores clássicos em português apenas o padre António Vieira está bem representado, com muitos dos seus mais famosos sermões integralmente publicados, com destaque para as edições brasileiras. É também um dos raros casos onde existe um índice dos seus textos em linha, cuidadoso, actualizado e acima de tudo simples de consultar e útil. "Não é grande desconsulação buscar e não achar?", perguntava o orador no seu Sermão da Primeira Oitava da Páscoa. No seu caso sempre há menos "desconsulação".Do padre Manuel Bernardes, um autor considerado como canónico para o português escrito, há muito pouca coisa em linha, uns fragmentos de prosa publicados no Projecto Vercial, em sítios brasileiros e apenas numa página brasileira e de índole religiosa se encontram alguns textos de Luz e Calor.
A mesma sorte não tem Frei Luís de Sousa, que, se não fosse o Projecto Vercial, praticamente não existia na Rede.

Bocage, o nosso último autor, para ficarmos no limiar do romantismo, está bem representado na Rede, embora padeça de dispersão que, no seu caso, é o preço do sucesso. Muitos dos seus poemas estão em blogues, sítios de poesia, páginas pessoais, embora a poesia erótica e satírica esteja menos representada do que o que se podia prever. O Projecto Vercial tem uma selecção da sua poesia "séria" e em muitos sítios se pode ler a sua Epístola a Marília sob o nome do seu primeiro verso a "Pavorosa ilusão da eternidade".Os resultados desta pesquisa com métodos comuns que representam as típicas literacias de procura na Rede são, para falar curto e grosso, catastróficos. Nem vale a pena estar a comparar com o que acontece em espanhol, francês, inglês e mesmo latim e grego.
Mas, oi tdbem quem krer falar = ao Bernardes? :- ).

(Versão do artigo no Público de 8 de Dezembro de 2007)

in :

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores

Povo que canta não pode morrer...

Arquivo do blogue

Pesquisar neste blogue