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Manufacturamos Realidades
Damos comummente às nossas ideias do desconhecido a cor das nossas noções do conhecido: se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida. Com pequenos mal-entendidos com a realidade construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes. Mas assim é toda a vida; assim, pelo menos, é aquele sistema de vida particular a que no geral se chama civilização. A civilização consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objecto torna-se realmente outro, porque o tornámos outro. Manufacturamos realidades. A matéria-prima continua a ser a mesma, mas a forma, que a arte lhe deu, afasta-a efectivamente de continuar sendo a mesma. Uma mesa de pinho é pinho mas também é mesa. Sentamo-nos à mesa e não ao pinho. Um amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento. E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento.
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
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Manufacturamos Realidades
Damos comummente às nossas ideias do desconhecido a cor das nossas noções do conhecido: se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida. Com pequenos mal-entendidos com a realidade construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes. Mas assim é toda a vida; assim, pelo menos, é aquele sistema de vida particular a que no geral se chama civilização. A civilização consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objecto torna-se realmente outro, porque o tornámos outro. Manufacturamos realidades. A matéria-prima continua a ser a mesma, mas a forma, que a arte lhe deu, afasta-a efectivamente de continuar sendo a mesma. Uma mesa de pinho é pinho mas também é mesa. Sentamo-nos à mesa e não ao pinho. Um amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento. E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento.
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
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todas as verdades em aberto.
ResponderEliminarestritamente pessoais.
pessoa.ecO...
:)
A ler estas coisas, só se pode chamar genial, ao nosso Pessoa, que entretanto também emprestamos ao mundo...
ResponderEliminarUm amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento....
ResponderEliminarsabemos não é I.????
________________ !
não sei se não amamos com o nosso instinto sexual... eu acho que sim... mas se calhar sou eu a misturar as coisas e a manufacturar as pequenas realidades minhas de cada dia...
ResponderEliminarque perfeito desassossego
ResponderEliminareste
de ser p(P)essoa
certo?
um beijo museal
Tanta foto, tanta informação sobre museus, tantos textos...mas a informação sobre a exposição em Cascais, nada...«lapsus??» ou é mesmo esquecimento?
ResponderEliminarUm amor é um instinto sexual, porém não amamos com o instinto sexual, mas com a pressuposição de outro sentimento. E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento.
ResponderEliminarenfim, PESSOA!!!
procurando retribuir um "comentário" vim ver quem era a sua "autora" (bem sei que a curiosidade matou o gato...) e , confesso, tenho que voltar com muito mais tempo!
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