O Museu Intercultural, se existisse, seria uma espécie de templo, um imenso locus de conhecimento, onde cada pessoa, com as ferramentas da sua cultura, as habilidades do seu SER e a força das suas memórias, animasse com os seus, à sua maneira, no seu tempo, amplos debates, foruns abertos a audiências globais, em “altares” de livre criação, ciclos de comunicação interpessoal (sempre inacabados), inquietantes, que se renovariam a cada novo olhar, em cada novo ciclo ...
Este Museu /Templo inominável, multiforme, experimental, filosófico, onde apenas a mudança é permanente, aparenta fragilidade, parece volátil, causa estranheza, mas revela, como nenhum outro, a fluidez do vivido, o ineditismo da experiência projectado a partir de cada um (da sua singularidade), numa rede infinita de paradoxos, memórias e esquecimentos.
Este Museu /Templo, feito de pessoas, assumiria as múltiplas formas dos anseios ( também dos medos) dos seus actores, em espaços imaginários de representação.
Seria como que um terreiro ficcional, onde se contemplam admiráveis metáforas, criadas e recriadas a partir dos universos individuais, de diásporas herdadas.
Este Museu / Templo da Interculturalidade , (com)vivencial, seria um observatório privilegiado. Um espaço cerimonioso de escuta. Um itinerário crítico de (auto) descoberta. Uma viagem ao âmago das identidades conflitantes geradas pelas diferenciações, desigualdades, etnias, gerações, géneros e representações. Como nos vêem, como nos vemos, o que vemos e queremos ver , as multiplas e ilusórias reflexões - o eterno jogo de espelhos.
Comunicar, ou melhor, comunicar-se entre culturas exercita a (des)codificação das formas singulares de (com)viver e de (re)contar a diversidade experienciada. A comunicação intercultural produz conhecimento; opera rupturas epistemológicas, metalinguagens que transformam vidas significativas em estórias significantes que são, afinal, a essência do Museu / Templo da Interculturalidade.
O Museu utópico / Templo de Interculturalidade, desmaterializado (em contra.tempo) é em si mesmo, mutante, contaminante e inclassificável.
Estamos na fase aprender a viver entre culturas e o museu, tal como hoje o conhecemos, poderá ser esse espaço ( multi)vivencial, de (auto)conhecimento e desenvolvimento pessoal.
Basta que abra as portas à diversidade e aceite ir mudando até que outros o reconheçam como algo significativo e contaminante. Um lugar poético pleno de sentido (de sentidos).
isabel victor, Setúbal, Junho 2006, "interculturalidade em museus"
Museu do trabalho Michel Giacometti
www.mun-setubal.pt/MuseuTrabalho
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