Elizabeth Bishop (1911-1979)
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CADELA ROSADA
Rio de Janeiro
Sol forte, céu azul. O Rio sua.
Praia apinhada de barracas. Nua,
passo apressado, você cruza a rua.
Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,
sem pêlo, pele tão avermelhada...
Quem a vê até troca de calçada.
Têm medo da raiva. Mas isso não
é hidrofobia — é sarna. O olhar é são
e esperto. E os seus filhotes, onde estão?
(Tetas cheias de leite.) Em que favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?
Você não sabia? Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.
E não são só pedintes os lançados
no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.
Se fazem isso com gente, os estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede?
A piada mais contada hoje em dia
é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando bóias salva-vidas.
Você, no estado em que está, com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o jeito
mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia
pôr uma máscara qualquer. Que tal?
Até a quarta-feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo-astral!
Dizem que o Carnaval está acabando,
culpa do rádio, dos americanos...
Dizem a mesma bobagem todo ano.
O Carnaval está cada vez melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um horror...
Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô...!
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"Cadela Rosada" (Pink Dog) é um dos últimos poemas de Elizabeth Bishop, uma americana com fortes ligações com o Brasil.
Embora concluído em 1979, "Cadela Rosada" começou a ser escrito muitos anos antes. Refere-se a um episódio famoso, de 1962, quando se denunciou que mendigos cariocas estariam sendo assassinados pelo Esquadrão da Morte, que lançava os cadáveres no rio da Guarda.
Elizabeth Bishop identifica a cadela rosada com um mendigo. E pergunta: se estão fazendo isso com seres humanos, o que não farão com uma pobre cadela sarnenta? Mas é interessante também fazer outra leitura: em inglês, bitch (cadela) é, também, prostituta. Então, muitos analistas vêem nesse animal uma metáfora da condição feminina.
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Como eu à svezes me sinto ignorante!Excelente poema, obrigada por me dar a conhecer!
ResponderEliminarAh, voltei a ler o poema-tem um ritmo estupendo!
ResponderEliminarObrigada pela visita Belinha ! Fico ... direi muito contente, por gostares deste poema de uma das minhas escritoras de eleição (genial!)
ResponderEliminarBeijos mil da Isabel
(Hoje VáVá vadiando ...?)