quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Troia, Setembro de 2010




O absoluto da vida, a resposta fechada para o seu fechado desafio só podia revelar-se e executar-se na união total com nós mesmos, com as forças derradeiras que nos trazem de pé e são nós e exigem realizar-se até ao esgotamento. Este «eu» solitário que achamos nos instantes de solidão final, se ninguém o pode conhecer, como pode alguém julgá-lo? E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos à prisão? Sabê-lo é afirmá-lo! Reconhecê-lo é dar-lhe razão. Que ignore isso o que ignora que é. Que o despreze e o amordace o que vive no dia-a-dia animal. Mas quem teve a dádiva da evidência de si, como condenar-se a si ao silêncio prisional? Ninguém pode pagar, nada pode pagar a gratuitidade deste milagre de sermos. Que ao menos nós lhe demos, a isso que somos, a oportunidade de o sermos até ao fim. Gritar aos astros até enrouquecermos. Iluminarmos a brasa que vive em nós até nos consumirmos. Respondermos com a absoluta liberdade ao desafio do fantástico que nos habita. Somos cães, ratos, escaravelhos com consciência? Que essa consciência esgote até às fezes a nossa condição de escaravelhos.




Vergílio Ferreira, in 'Aparição (discurso da personagem Sofia)'





















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4 comentários:

  1. Que não se cale

    nem o silêncio

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  2. Obrigada " Mar arável " ...

    ;) iv

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  3. SERMOS todos os dias e em consciência,dá trabalho mas vale a pena.

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  4. é incrível como certas palavras nos confortam e afastam de nós a mágoa da solidão. a luz das fotografias tem um ânimo próprio. gostei muito de vir aqui. um grande beijinho, isabel victor.

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