domingo, 27 de junho de 2010

Ruas das Fontaínhas, em Setúbal _  um caminho de todos os dias





Poema Quotidiano







É tão depressa noite neste bairro
Nenhum outro porém senhor administrador
goza de tão eficiente serviço de sol
Ainda não há muito ele parecia
domiciliado e residente ao fim da rua
O senhor não calcula todo o dia
que festa de luz proporcionou a todos
Nunca vi e já tenho os meus anos
lavar a gente as mãos no sol como hoje
Donas de casa vieram encher de sol
cântaros alguidares e mais vasos domésticos
Nunca em tantos pés
assim humildemente brilhou
Orientou diz-se até os olhos das crianças
para a escola e pôs reflexos novos
nas míseras vidraças lá do fundo






Há quem diga que o sol foi longe demais
Algum dos pobres desta freguesia
apanhou-o na faca misturou-o no pão
Chegaram a tratá-lo por vizinho
Por este andar... Foi uma autêntica loucura
O astro-rei tornado acessível a todos
ele que ninguém habitualmente saudava
Sempre o mesmo indiferente
espectáculo de luz sobre os nossos cuidados
Íamos vínhamos entrávamos não víamos
aquela persistência rubra. Ousaria
alguém deixar um só daqueles raios
atravessar-lhe a vida iluminar-lhe as penas?






Mas hoje o sol
morreu como qualquer de nós
Ficou tão triste a gente destes sítios
Nunca foi tão depressa noite neste bairro






Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"









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7 comentários:

  1. Dir-se-ia um caminho mágico, também. Bjs.

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  2. a tua paixão...
    :)



    tudo perfeito.

    beijo.



    y.

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  3. A Rua das Fontainhas...o Lagarto...a luz...a beleza dos cantos e recantos... o azul intenso de um rio/mar que encanta...
    Não há palavras...
    Beijos

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  4. A Rua das Fontainhas...o Lagarto...a luz...a beleza dos cantos e recantos... o azul intenso de um rio/mar que encanta...
    Não há palavras...
    Beijos

    ResponderEliminar
  5. :) só agora percebi que também escolhi este layout... beijinhos*

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  6. é um percurso e tanto, com vozes e cheiros...

    bjs Isabel

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